terça-feira, 5 de outubro de 2010

O Punk 77 e a ideologia política

Quando o punk começou a mostrar um novo modo de fazer rock’n’roll, mais simples, mais direto, a idade de seus representantes não passava de 20 anos e era muito complicado ser jovem e rebelde durante um período militar de repressão intensa - qualquer atividade que saísse da normalidade imposta, era considerada subversiva e perigosa. Por Ariel



O PUNK DE 77 E A IDEOLOGIA POLÍTICA


O Movimento Hippie saía de cena por não compactuar com esse modo de sociedade, autoritária e careta, e decidiu se afastar dela, criando comunidades rurais e praianas, onde pudessem viver em paz, desapegados dos bens materiais, capitalistas e consumistas, deixando um vácuo que seria ocupado por um movimento novo, mais urbano e mais disposto a lutar pelo espaço em que vivia o Movimento Punk.
O Movimento Punkento Punk!

Em princípio, nada de política, de esquerda ou de direita, habitava o universo desse movimento, que era apenas musical, mas por questões que envolviam uma luta contra o autoritarismo e a repressão, que estavam impostos no país desde 1964, os garotos mostravam uma disposição de continuar o que haviam começado e não abriam mão de seus novos valores, mesmo que para isso fossem buscar no niilismo e na prática anarquista inconsciente uma forma de se manter em movimento - até porque a condição era de luta de classes e estávamos do lado de cá do rio, então, como não se envolver, mesmo que indiretamente?

Havia muita agitação política, vinda principalmente do sindicalismo e do movimento estudantil, que estava na clandestinidade, mas que enfrentava junto com os sindicatos dos trabalhadores a ditadura implantada. No final dos anos 70, os grupos revolucionários armados já haviam sido dizimados pelos governos militares, com ajuda logística norte-americana.

Lembro da greve dos bancários, que criou uma verdadeira praça de guerra no centro de São Paulo em 1977, com cadeiras de gerentes voando pelas janelas e vidros quebrados por toda parte, fazendo um verdadeiro caos na cidade. Eram manifestações relâmpago, urbanas, pois os grandes bancos estão concentrados no centro da capital paulista. Nas portas das grandes metalúrgicas também se fazia muita agitação, principalmente por sindicatos livres e não só pela campanha salarial, como era de costume.


Nas universidades e nas escolas secundaristas também aconteciam greves, onde os estudantes apoiavam a luta dos professores por melhores condições de ensino, por liberdades democráticas e pela reconstrução da UNE (União Nacional dos Estudantes) e UMES (União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas).


Bem, diante desse quadro de muita luta contra a ditadura e contestação dos valores burgueses, seguíamos fazendo nossas paradas, organizando sons, pesquisando sobre essa nova onda musical que surgia, ocupando as ruas com estilo próprio e tentando curtir Rock’n’Roll numa cidade cheia de preconceitos, mesmo não nos envolvendo diretamente nessas manifestações, pois, apesar de sermos proletários, éramos direcionados para a alienação, desde a mais tenra infância. Éramos moleques da periferia, malcriados, briguentos e delinqüentes, vivíamos brigando com desafetos de outras gangues e sempre envolvidos em alguma treta com a polícia, que nos perseguia pelas quebradas, por pequenos furtos, pequenos tráficos, bebedeiras, brigas, desordem pública, estelionatos etc. A barra era realmente pesada.


Seguíamos procurando diversão e sangue - e era aconselhável, se você curtia rock e estava a fim de sair para agitar um som -, estar em alguma gangue, pois as ruas estavam infestadas de maldade, que certamente iria de encontro a você.


Foi complicado e extremamente rude esse começo do punk em São Paulo e apesar de certa incoerência por parte dos garotos punks da periferia, o estopim para um movimento mais radical estava aceso e era questão de tempo até que estivéssemos engajados nessas manifestações políticas. E isso realmente aconteceu nos anos seguintes.

Texto Escrito por: Ariel, 45 anos, músico punk (participou das bandas Restos de Nada, Desequilíbrio, Inocentes, atualmente na Invasores de Cérebros), anarquista militante dentro do grupo Ação e Anarquia, poeta e editor dos Cadernos da Sarjeta e colecionador de discos raros.

Fonte:http://www.portalrockpress.com.br/modules.php?name=News&file=article&sid=3099

Um comentário:

  1. Vocês tinham acesso aos sons do cenário punk da época? Ramones, Buzzcocks, Clash, ou esses lances só chegaram no Brasil mais tarde? Ótimo post, por sinal!

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