quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A Farsa do Cristianismo

Este artigo não é de um editor do 'Revolta dos Humildes' e as opiniões nele externadas são de responsabilidade única e exclusiva de seu autor.




Os povos da antiguidade adoravam o sol, devido ao fato de cedo perceberem que sem ele não existiria vida no planeta, que as colheitas seriam impossíveis e pelo simbolismo de que o sol nos salva do frio e da escuridão da noite, repleta de predadores. Através dessa antiga adoração ao sol eu vou demonstrar nesse artigo por que a história de Jesus é falsa.
Na mitologia egípcia existe a lenda de Hórus, o deus dos céus. Basicamente, a história de Hórus é a seguinte: Hórus nasceu em 25 de dezembro (o dia do solstício de inverno no hemisfério norte) da virgem Íses Meri. Seu nascimento foi precedido por uma estrela no oriente que guiou três reis que o adoraram. Aos 12 anos Hórus foi um prodígio nos ensinamentos, aos 30 foi batizado por Anup e começou seu ministério, teve 12 seguidores com os quais viajou praticando milagres, tais como curar enfermos, andar sobre as águas e ressuscitar os mortos. Hórus foi traído por seu seguidor Tifão e morreu crucificado, foi enterrado, depois de três dias ressuscitou e ascendeu ao céu.
A lenda de Hórus é datada de, aproximadamente, 3.000 anos antes de cristo, o que demonstra o quão plágio de Hórus Jesus é:

Hórus foi gerado pela Virgem Ísis Meri
Jesus foi gerado virgem Maria
Hórus nasceu de um milagre
Jesus nasceu de um milagre
Hórus foi precedido por uma estrela
Jesus foi precedido por uma estrela
Hórus foi adorado por três reis
Jesus foi adorado por três reis
Hórus foi batizado por Anup
Jesus foi batizado por João Batista
Hórus foi uma criança-prodígio aos 12 anos
Jesus foi uma criança-prodígio aos 12 anos
Hórus teve 12 seguidores
Jesus teve 12 discípulos
Hórus disse ser a Luz do mundo
Jesus disse ser o Caminho, a Verdade e a Vida
Hórus andou sobre as águas
Jesus andou sobre as águas
Hórus curou enfermos
Jesus curou cegos, paralíticos e enfermos
Hórus ressuscitou um homem chamado El-Azar-Us
Jesus ressuscitou Lázaro
Hórus foi considerado o rei dos egípcios
Jesus foi considerado o rei dos judeus
Hórus foi traído por Tifão
Jesus foi traído por Judas
Hórus morreu crucificado e foi sepultado
Jesus morreu crucificado e foi sepultado
Hórus ressuscitou três dias após sua morte
Jesus ressuscitou três dias após sua morte
Hórus ascendeu ao reino dos céus
Jesus ascendeu ao reino dos céus

Estes atributos também estão presentes em outras divindades, de outras mitologias, tais como Átis da Frígia (1200 A.C.), que nasceu da virgem Nana em 25 de dezembro, morreu crucificado e ressuscitou após três dias. Ou ainda Mithra da Pérsia (1200 A.C.) nasceu de uma virgem em 25 de dezembro, teve 12 discípulos com os quais viajou praticando milagres e ressuscitou três dias depois de morrer.
Estas características são partilhadas por todos os messias solares. Cabe lembrar que os messias solares não são necessariamente a divindade do sol de suas mitologias de origem e sim a divindade que recebeu de seus crentes a mesma adoração que os povos antigos devotavam ao sol. Estas características, originais ou não, tem uma origem puramente astrológica.
A imagem no inicio desse artigo é a Cruz do Zodíaco, uma das mais antigas imagens na história da humanidade. Ela representa o trajeto do sol durante um ano através das 12 constelações, os 12 meses do ano, as quatro estações, solstícios e equinócios. Contudo, a Cruz do zodíaco não é apenas uma ferramenta para estudo e observação do sol, ela é também um símbolo espiritual pagão. O sol representa a figura de um deus, Jesus no caso do cristianismo, como o centro do universo e as 12 constelações são os 12 discípulos com os quais Jesus, sendo o sol, viaja.
A virgem Maria que da a luz ao salvador é uma referência a constelação do zodíaco Virgem, isto representa que Jesus tem sua origem no céu e não na terra.
A estrela no oriente é Sirius. Antigamente, Sirius era usada pelos viajantes para se orientarem durante a noite, devido ao fato de ser a estrela mais brilhante no céu noturno. Os três reis são as estrelas da constelação conhecida como Três Reis, Três Marias na América Latina e península ibérica ou ainda Cinturão de Órion na Grécia. Durante o solstício de inverno no hemisfério norte, que ocorre na madrugada de 24 para 25 de dezembro, Sirius e a constelação Três Reis se alinham em uma linha diagonal que aponta para o exato local onde o sol nasce em 25 de dezembro. Esta é a razão pela qual Jesus teria nascido em 25 de dezembro e teria sido adorado por três reis que seguiram uma estrela.
Do solstício de verão até o solstício de inverno (25 de dezembro no hemisfério norte), os dias se tornam mais curtos e frios e o sol parece se mover para o sul, ficar menor e mais fraco. Isso simboliza o processo da morte. Três dias antes do solstício de inverno o sol atinge o ponto mais baixo no horizonte, ficando próximo ao local onde, no céu noturno, se avista a constelação de Alpha Crucis, ou Cruzeiro do Sul. Então, após o solstício de inverno, os dias começam a ficar mais longos e quentes e o sol parece se mover para o norte, ficar maior e mais forte. Assim, metaforicamente falando, o sol morreu na cruz para ressurgir depois de três dias. Esta é a razão pela qual Jesus e outros messias solares compartilham do conceito crucificação, morte e ressurreição após três dias. É uma alegoria que representa a transição do sol antes de mudar para a direção contrária, trazendo com este movimento a primavera, que representa a salvação, no hemisfério norte.
Todavia, a celebração da ressurreição só é comemorada depois do equinócio da primavera, quando o período diurno se torna maior que o noturno. Isso representa a vitória da luz sobre as trevas, ou do bem sobre o mal.
Para aqueles que não acreditam, ou não aceitam, a verdade por trás destas representações e alegorias astrológicas e que Jesus nada mais é do que um plágio de Hórus, vejamos outras evidências. Alguém já ouviu falar em algum registro histórico, e não bíblico, da figura de Jesus? Inúmeros historiadores viveram na mesma época e lugar que Jesus supostamente viveu, ou logo após a sua presumível morte. No entanto nenhum deles fez qualquer referência ou registro a sua existência. Mas, para ser imparcial, houveram três fontes: Suetônio, Tácito e Plínio, o jovem. Estes historiadores fizeram algumas poucas referências a Cristo, que não é um nome e sim um título.
Houve ainda uma quarta fonte, Joseph teria citado Jesus de Nazaré em seus registros. Porém ficou provado, séculos atrás, que estes documentos foram falsificados e, para infortúnio da humanidade, considerados verdadeiros por muitos até hoje.
Um dos primeiros historiadores cristãos, Justin Martyr, escreveu: “Quando nós, cristãos, dizemos que Jesus Cristo, nosso mestre, nasceu sem união sexual, foi crucificado, morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus, nós não propomos nada diferente do que aqueles que acreditam nos filhos do deus Júpiter.”. Em outro texto, Justin Martyr diz: “Ele nasceu de uma virgem, aceitem isso em comum com aquilo em que vocês acreditam dos (deuses) perseus.”.
É óbvio que Justin e outros cristãos cedo souberam como o cristianismo é semelhante às religiões pagãs. Contudo, Justin apresentou uma solução para este “problema”, alegando que o diabo teve a ambição de chegar antes que Jesus e criou estas características para o mundo pagão.
Assim concluímos que, uma vez pesadas as evidências, há grandes probabilidades de a figura conhecida como Jesus nunca sequer ter existido.
A realidade consiste em que Jesus foi o messias solar da crença teísta cristã e, tal como os deuses pagãos, é uma figura mítica. Foi sempre o poder político que procurou monopolizar a figura de Jesus para controle social.
Por volta do ano 325 D.C., em Roma, o imperador Constantino reuniu o primeiro Concílio Ecumênico de Nicéia e foi durante essa reunião que as doutrinas políticas com motivações cristãs foram estabelecidas, dando inicio a uma longa história de derramamento de sangue e fraude espiritual. E, nos 1600 anos que se seguiram, o vaticano dominou politicamente, e com mão de ferro, toda a Europa, conduzindo-a a um período de obscurantismo, onde o conhecimento era um privilégio da igreja, das cruzadas e da “santa” inquisição.
O cristianismo e todas as outras crenças teístas, são a fraude dessa era! Serviram apenas para afastar os seres humanos do seu meio natural e, da mesma maneira, uns dos outros. Sustentam a submissão cega dos seres humanos às autoridades divinas e/ou religiosas, reduzem a figura humana sob a premissa de que um deus, ou panteão, controla todas as coisas e, que por sua vez, os crimes mais terríveis são justificáveis em nome da perseguição divina. E o mais importante, dá o poder aqueles que conhecem a verdade e usam o mito para manipular e controlar sociedades.
O mito religioso é o mais poderoso dispositivo já criado e serve como base psicológica para que outros mitos floresçam, ou justifiquem-se.
“Um mito é uma idéia que, mesmo amplamente seguida, é falsa. Aprofundando, no contexto religioso, um mito serve como uma história que guia e mobiliza povos. O destaque não está na relação da história com a realidade, mas na sua função. Uma história não funciona, a não ser que a comunidade, ou nação, acredite que ela é verdadeira. Nunca será matéria de debate se alguém não tiver o arrojo de questionar a veracidade da história sagrada. Os guardiões da fé não participam de nenhum debate conosco, acadêmicos, eles simplesmente ignoram-nos e nos acusam de heresia e blasfêmia.” – David Ray Griffin.

sábado, 1 de outubro de 2011

R.I.P Redson


É com lágrimas nos olhos e profunda tristeza que venho comunicar-lhes que Redson, Vocalista e principal integrante da banda cólera faleceu na noite de Terça-Feira(27/09), devido a uma parada cardio respiratória. O punk perde seu maior icone brasileiro, um homem que lutou até o fim e que sempre será lembrado pela grande pessoa que foi.
Sua mensagem será gritada aos quatro cantos por seus fãs...
Descanse em paz companheiro
Você deixará muitas saudades
Muito obrigado por tudo!

http://punkxhcxoi.blogspot.com/

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Os Punks também amam ♫

Todo Punk , querendo ou não, ja tem um estereótipo de "bad boy". Isso de certo modo , reprime um pouco nossas expressões amorosas... Repito: nossas 'EXPRESSÕES' amorosas. Mas esse estereótipo não reprime nossos sentimentos.
Nossos sentimentos estão muitas vezes ali, esperando para serem despertados, por alguém que vale a pena quebrar o estereótipo tradicional e expressar o amor de forma romântica, e não como uma fantasia de loucura como ocorre na maioria das vezes.

O movimento Punk , ele é muito intenso, e há um desgaste muito grande(e que vale a pena) devido a essa intensidade do nosso movimento.
Convivemos com atos e pensamentos de rebeldia constantemente. Lutamos pelas minorias, pelos mais fracos, pelos miseráveis, pelos indefesos e pelos oprimidos... Lutamos por todos esses, contra o sistema, o governo, a burguesia, e nessa luta há uma desigualdade visível e atormentante que protege o inimigo. Isso torna nossa luta, muito desgastante.
Com tudo isso , muitas vezes, não nos resta forças para lutar com nosso inimigo ou amigo íntimo, chamado sentimento.
Poucos e com sorte, são aqueles que conseguem um amor dentro da nossa guerra, aqueles que encontram alguém que compartilhe das mesmas idéias, da mesma ideologia, dos mesmos ideais de vida, do modo que vê o mundo e da maneira de pensar semelhante. Esses tem sorte!!
Todos nós de uma maneira geral, lamentamos essa ausência de "sorte" , e queriamos muito conseguir isso. Esperamos por muito tempo, as vezes em vão, as vezes não... Muitas vezes achamos a "garota certa" pra gente , mas ela não nos acha, isso torna tudo tão difícil.
Com tudo, vivemos em constante guerra com o inimigo à fora e com o sentimento à dentro, porém, escolhemos isso e somos felizes assim.
Mas um pouco de amor, não faz mal à ninguém, pelo contrário, faz muito bem amar.


E eu também amo!!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

7 mitos sobre a Maconha



1- A maconha vicia

O vício na maconha é uma questão relativa até mesmo para os cientistas. Segundo o biomédico Renato Filev, pesquisador do Núcleo de Neurobiologia e Transtornos Psiquiátricos da USP, o vício na cannabis, não existe, mas sim um hábito de fumá-la. O consumo de erva com frequência pode ser considerado vício, porém, não há relatos clínicos de casos de abstinência”. Também não há relatos de tolerância à cannabis, um dos sintomas do vício. “Há diferentes níveis de dependência. O vício na maconha, entretanto, é social e individualmente menos danoso do que os de outras drogas e mais fácil de ser enfrentado, ainda que acarrete grande sofrimento, como qualquer transtorno mental grave”, diz o antropólogo Maurício Fiore. Ou seja, você pode não se tornar quimicamente dependente da maconha, mas mentalmente.

2- A maconha causa danos cerebrais

O uso excessivo de maconha pode causar danos cerebrais sutis a longo prazo, mas não deixar a pessoa completamente demente. Este mito aparece na história desde o século 19, quando os ingleses acreditavam que o bhang, bebida à base de maconha bastante comum na região da Índia, causada demência. Hoje, depois de anos de pesquisas, sabemos que a cannabis não faz mal, desde que usada moderadamente. Experiências que compararam pessoas que não fumavam maconha com usuários assíduos, que consumiam cinco baseados por dia há mais de 15 anos, mostraram diferenças sutis nos resultados de memória e atenção. A mesma pesquisa mostrou que o uso excessivo e diário de álcool causa mais sequelas do que a cannabis.


3- Maconha x Cigarro: males

Não há provas da relação direta entre fumar maconha e câncer de pulmão, traqueia ou outros associados ao uso do cigarro. Nem por isso, o baseado está livre de seus males. “O fato de ser inalada normalmente sob a forma de fumaça resultante da queima da erva enrolada num papel acarreta consequências tão ou mais negativas que as do tabaco”, diz o antropólogo Fiore. Outra preocupação é que os resultados do uso prolongado da droga ainda são incertos.“A ilegalidade da maconha é um enorme obstáculo para a pesquisa sobre consequências do seu consumo e para a disseminação de informações aos seus consumidores”, completa Fiore. Mas já sabe-se que o usuário eventual não precisa se preocupar com um aumento grande do risco de câncer. Porém, aquele que fuma mais de um baseado por dia há mais de 15 anos deve pensar em parar.


4- A maconha é a porta de entrada

Grande parte de viciados em drogas pesadas foi, no passado, usuário de maconha, mas nem todos ficam viciados em drogas pesadas. Esta é a melhor maneira de explicar o fenômeno que deu à cannabis a fama de que é uma porta de entrada para o consumo de drogas como o crack e a heroína. “Uma parcela muito pequena de usuários de maconha migram para outras drogas”, diz o biomédico Filev. A maior e única ligação entre a maconha e o crack, por exemplo, é que ambos são ilegais e são vendidos no mesmo lugar. Segundo o antropólogo Mauricio Fiore, o que faz um usuário de maconha ter acesso a drogas mais pesadas é o simples e puramente fácil acesso a elas, por estarem na “mesma prateleira do supermercado”.


5- A maconha é mais forte hoje do que era no passado

As novas técnicas de cultivo da cannabis e a popularização do skunk, maconha hidropônica, são os culpados pelo surgimento deste mito. A sociedade civil acusa que o uso de tipos híbridos no cultivo da maconha faz com que a planta tenha maior quantidade de resina e de princípios ativos, o que a deixaria mais “forte”. De fato, a “potência” da maconha depende da “safra” da cannabis e dos cuidados do cultivador, mas essa turbinada independe se a planta é hidropônica ou não. “Planta geneticamente alterada não significa maior potência e nem muito menos que os usuários estejam consumindo maconha de forma mais arriscada ou perigosa”, diz o antropólogo Fiore.


6- Maconha não tem valor medicinal

A maconha pode (ainda) não curar, mas ajuda a aliviar os incômodos do tratamento de transtornos mentais e de portadores do HIV, estimulando o apetite dos pacientes. O primeiro relato médico do uso medicinal da cannabis foi há 5 mil anos, em um herbário chinês, onde a planta era indicada para combater males como a asma, doenças do aparelho reprodutor feminino, insônia e constipação intestinal. No ocidente, quem inaugurou o uso “sério” da droga foi o professor Raphael Mechoulam, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Atualmente, os medicamentos com base na maconha estão sendo usados em pacientes de Aids, câncer e esclerose múltipla. “Estão sendo feitos os componentes da Cannabis em comprimidos e spray”, conta o biomédico Filev. “A droga, então, poderá ser usada nos tratamentos de transtornos como ansiedade, depressão, psicose, esquizofrenia e doenças neurodegenerativas”.


7- Na Holanda vale tudo!

Se você acha que, assim que descer em Amsterdã, encontrará pessoas por todos os cantos fumando os seus cigarros de maconha, você está completamente enganado. Ao contrário do que achamos, a Holanda não liberou a Cannabis, mas adotou uma política de tolerância às drogas. Você não encontrará, por exemplo, gente fumando maconha nas escolas e nos transportes públicos, lugares onde o consumo é proibido. Os usuários só podem acender os seus baseados em parques, bares e ao ar livre. Você também não poderá comprar a Cannabis em qualquer lugar, já que apenas casas especiais, os Coffee Shops, podem vendê-la. Além disso, uma pessoa pode comprar, no máximo, 5 gramas de maconha (sendo que os Coffee Shop podem ter no máximo 500 gramas da droga), para evitar o consumo excessivo e o tráfico de drogas. A legislação proíbe, ainda, a publicidade da cannabis e a venda da erva a menores de 18 anos.


Fonte: Super Abril

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Escola Laica - Liberdade e igualdade.

Roseli Fischmann

As escolas públicas devem ter ensino religioso?

NAO

O lugar do ensino religioso não é na escola pública, mas na família e nas comunidades religiosas, para quem assim o quiser.

Por ser ligado ao direito à liberdade de consciência, de crença e de culto, o ensino religioso depende de ser buscado, não de ser oferecido sob a égide do Estado, por ser matéria íntima, de escolha, segundo a consciência de cada pessoa.

Daí o caráter facultativo para o aluno que a Constituição estabelece para o ensino religioso nas escolas públicas, buscando preservar tanto o direito à liberdade de crença quanto a laicidade inerente à escola pública. Razões de ordem ética, jurídica, histórica e pedagógica amparam essa posição.

Crianças pequenas, de seis anos, iniciando o ensino fundamental, têm suas consciências tenras plasmadas pela escola. Quais as repercussões de conteúdos religiosos conflitantes ao que recebe no lar, em sua compreensão do mundo?

Aprender a não fazer ao outro o que não quer que lhe façam indica formação para autonomia, valorizando a alteridade -cerne da educação. Na escola, o respeito aos outros não pode ser amparado em divindade, mesmo para quem creia.

Porque amparar-se no inefável para garantir a não violência é menosprezar a capacidade humana de respeito mútuo e a própria fé, que não depende de constrangimento e submissão. A escola pública deve explicitar o que é humano (como a ciência) como mutável, porque falível e passível de debate e discussão, sempre sujeito a aperfeiçoamento. Como a Constituição.

A possibilidade de uma PEC que retire o parágrafo primeiro do artigo 210 da Constituição é uma urgência histórica, em prol das próprias religiões. Porque, ao tentar regulamentar o não regulamentável, qual seja, o acordo entre religiões sobre o que ensinar, como conteúdo único, a Lei de Diretrizes e Bases da educação criou mais dificuldades que soluções para o que já era problemático na Constituição.

Mesmo internamente a Constituição parece inconsistente, já que o seu artigo 19 estabelece que é vedado ao Estado "estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança" e "criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si".

Promover um ensino religioso que seja ligado a denominação religiosa específica no âmbito da escola pública (como propôs o acordo da Santa Sé com o Brasil) é promover distinção entre brasileiros.

Mesmo que fosse possível cumprir a promessa de que "todas as religiões serão oferecidas", seriam desrespeitados em seus direitos os agnósticos e ateus.

Supor que seja possível tratar as religiões de forma "neutra", na escola pública, é menosprezar consequências de perseguições e raízes de guerras religiosas que a humanidade travou. Propor ensino religioso como história das religiões pode ser adequado só para jovens e não crianças, e não terá sentido se o professor conduzir o ensino privilegiando sua crença ou descrença.

A escola pública precisa ser entendida como lugar de desconstrução das discriminações que perpassam nossa cultura, de forma silenciosa ou denegada, que desrespeitam religiões e, sobretudo, seus adeptos, todos igualmente brasileiros e brasileiras.

Argumentar que a maioria "democraticamente" tem o direito de impor no espaço público sua crença e que na escola "só fará bem ter (uma certa) religião" reduz a democracia à tirania, pois nega o direito de as minorias serem integralmente respeitadas, a ponto de (como ensina Bobbio e dita a regra do jogo democrático) um dia se tornarem maioria.

ROSELI FISCHMANN é coordenadora do programa de pós-graduação em educação da Universidade Metodista de São Paulo e pesquisadora do CNPq para o tema do ensino religioso. Foi membro da Comissão Especial de Ensino Religioso do Governo do Estado de São Paulo (1995-1996).

Fonte:Folha de S. Paulo

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Nota em repúdio ao "Dia do Orgulho Hétero"

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou, nesta terça-feira(02/08/2011), projeto de lei que cria o Dia do Orgulho Heterossexual, de autoria do vereador Carlos Apolinario (DEM).

A seguir um texto, que expressa meu ponto de vista sobre a criação e comemoração do tal dia e sobre (des)igualdades em nosso país:

Besteira esse lance de orgulho hétero. Geralmente o lance de "orgulho não sei do quê", estão destinadas as minorias, que querem fazer também valer o direito de serem respeitados em uma sociedade, em que apesar de nos declararmos sermos um país Laico, os preconceitos morais, estão enraizados em valores religiosos.


Outro exemplo: 'O dia internacional da mulher'. Alguém acha que é um dia para se ganhar flores e bombons no serviço ? Lógico que hoje em dia, tivemos grandes avanços...mas em outros tempos, era um dia em que as mulheres saiam as ruas para exigirem também direitos iguais . A vida da mulher estava fadada, a cuidar da casa e dos filhos durante o dia, e servir sexualmente o marido durante a noite. Ninguem as escutava, nem pediam a sua opinião, não podiam votar, quando trabalhavam fora, era em condições inóspitas e a troco de um salário miserável. Como disse...eram minorias exigindo seu direito de serem tratada de forma igualitárias .

Mais um exemplo: 'O dia da consciência negra'. Alguém acredita em que vivemos em um país, em que o preconceito racial não existe ? Ou como alguns dizem; somos uma democracia racial ?
Ou como alguns também dizem; somos o país da miscigenação racial e cultural. Eis alguns números rápidos então:

Do total dos universitários, 97% são brancos, sobre 2% de negros e 1% de descendentes de orientais.

Sobre 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, 70% deles são negros.

Sobre 53 milhões de brasileiros que vivem na pobreza, 63% deles são negros .( Números de 2001 ).


Onde está a democracia racial ? Miscigenação ocorria pelo fato, quase em sua totalidade, em decorrências de violência sexuais, que as negras sofriam.
Quando falaram de cota para negros, o país quase veio abaixo.

Agora alguns dados ainda mais assustadores:
No Brasil, um homossexual é morto a cada 36 horas, esse tipo de crime aumentou 113% nos últimos cinco anos. Em 2010, foram 260 mortos. Apenas nos três primeiros meses deste ano foram 65 assassinatos.

Agora sobre um hétero morto por héterofobia, alguém ja ouviu falar ?

Enfim, a relação homoafetiva, na minha opinião é uma opção legítima. O direito de ter filhos ou não é problema do casal (sou a favor da adoção de crianças por casais do mesmo sexo). E vivemos em um país, em que a hipocresia ainda reina soberana.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Relembrar é viver - A Revoada dos Galinhas Verdes

No dia 7 de outubro de 1934, na Praça da Sé, em São Paulo, travou-se um enfrentamento que durou várias horas entre, de um lado, os bandos da Ação Integralista do fascista Plínio Salgado e, de outro, os sindicatos e organizações operárias e setores de esquerda (socialistas, comunistas, anarquistas e trotskistas) que terminou com a derrota indiscutível dos fascistas e deixou um saldo de alguns mortos e vários feridos.

Os trotskistas foram o fator determinante na preparação desse grande triunfo operário e revolucionário que desbaratou a tentativa de reeditar no Brasil os movimentos fascistas da Itália e da Alemanha. Esta façanha heróica passou para a história com o nome de Batalha da Praça da Sé, e lamentavelmente a imensa maioria dos partidos e grupos que se reivindicam trotskistas no Brasil não fazem recordar esse fato, deixando-o no esquecimento.

No ano de 1930, a burguesia dos ricos estados do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, com Getúlio Vargas à frente, dá um golpe de estado contra o presidente Washington Luiz, de São Paulo, e impõem outro equilíbrio entre as classes dominantes do país. A burguesia paulista tenta resistir e inclusive em 1932 se levanta em armas, mas é facilmente derrotada.

O governo de Getúlio, que era uma ditadura com traços parlamentares e discurso populista (e se consolida definitivamente com o Estado Novo, em 1937) persegue os setores operários combativos e proíbe a esquerda, impondo uma legislação trabalhista copiada da Carta del Lavoro de Mussolini .

Nos anos 1920 e princípios dos anos 1930 o proletariado brasileiro se desenvolvia movido por uma relativa industrialização impulsionada entre a duas guerras mundiais. As idéias revolucionárias influenciavam a vanguarda que ganhava e criava sindicatos e organizações políticas próprias.

Nesses anos teve origem o comunismo no Brasil, influenciado por setores anarquistas e anarcosindicalistas (e não pelos Partidos Socialistas, como em muitos outros países). Os sindicalistas revolucionários brasileiros, todos de tendência anarquista que protagonizaram heróicas lutas desde 1917 até a histórica greve geral de 1919, se dividiram sob o efeito da Revolução de Outubro de 1917 na Rússia. Entre os 9 delegados fundadores do Partido Comunista, em 1922, estavam João da Costa Pimenta, um grande dirigente gráfico, e Joaquim Barbosa, que era alfaiate e foi secretário sindical do PC. Alguns anos depois, ambos se tornariam reconhecidos dirigentes trotskistas.

No final de 1920, o movimento comunista mundial passava a ser controlado pelo stalinismo , que expulsava e perseguia a ala revolucionária, que era encarnada por Leon Trotsky e os então pejorativamente chamados ?trotskistas?. No Brasil, em 1928, a fração sindical de Barbosa e Costa Pimenta, já fora do PC, se une ao grupo dissidente de Rodolfo Coutinho, advogado do nordeste, também fundador do PC e delegado ao V Congresso da Internacional Comunista, e Lívio Xavier, Hilcar Leite e Aristides Lobo, encarregado da Juventude Comunista em São Paulo.

Em 1929, o stalinismo brasileiro sofre mais dois golpes. Outra vez em gráficos, mas agora ligados desde o princípio à Oposição de Esquerda , se forma uma fração com o dirigente Manoel Medeiros e outros.

Por sua vez, Mario Pedrosa que havia sido convidado a Moscou para participar de uma escola de formação política adoece quando passava pela Alemanha e toma contato com a Oposição e com os documentos críticos que Trotsky (já expulso do PC e da União Soviética) escreveu para o VI Congresso da III Internacional, aderindo plenamente às posições trotskistas e deixando de seguir viagem para Moscou. Em 1929, retorna ao Brasil e reagrupa todos os núcleos anteriores e funda a organização que depois seria conhecida como Liga Comunista Internacionalista (LCI). Em seguida, ganham o grupo de Fulvio Abramo.

Na maioria dos países da América Latina, salvo Cuba e Chile, a divisão dos PCs deixam os trotskistas em minoria. Poder-se-ia dizer que também, no Brasil, mas na cidade de São Paulo os trotskistas tinham mais influência que o PC oficial.

O FASCISMO DESPONTA NO BRASIL

Em 1932, ao calor do crescimento do fascismo na Europa, toma impulso a Ação Integralista liderada por Plínio Salgado. Os fascistas na Itália usavam camisas pretas; os nazistas, camisas pardas; os falangistas espanhóis, camisas azuis; e os fascistas brasileiros, camisas verdes. Seu objetivo imediato era ser um grupo de choque contra os sindicatos e a esquerda, que servisse ao regime bonapartista de Getúlio Vargas.

A penetração nazista na América do Sul deu-se, também, ?financiando e dirigindo a formação de partidos políticos, como os ?integralistas? no Brasil...?

Os trotskistas lançam a idéia de agrupar-se para combater o fascismo nascente e propõem organizar uma Frente Única Antifascista. Em julho de 1933 se forma a FUA com diversas organizações operárias, políticas e sindicais, menos o Partido Comunista. Alcançam ser umas 30 organizações. Os trotskistas dirigiam a poderosa UTG ? União dos Trabalhadores Gráficos que aglutinava também os jornalistas e desde esta entidade lançam sucessivas propostas como a da FUA.

Em novembro de 1933 os integralistas organizam uma provocação num ato da FUA, com a intenção de dissolvê-lo. Não ocorrem maiores incidentes pelo forte aparato militar, porém, mais tarde, são detidos 17 companheiros por vários dias. Os integralistas preparam, por sua vez, um ato para o dia 15 de dezembro, e os antifascistas se organizam e se dispõem a enfrentar este ato com uma contramanifestação. Os integralistas recuam, apesar de contar com permissão policial, suspendendo o ato. A FUA mantém sua manifestação e os fascistas nem se atrevem a repetir a provocação de novembro. Entusiasmada com o êxito a FUA lança um novo ato para o dia 25 de janeiro de 1934. Contudo, desta vez a polícia se adiantou, fechou sede da UTG e ocupou a praça onde se realizaria a manifestação. Ainda assim, o ato se realizou com 3 oradores, entre eles Mario Pedrosa. Ao finalizar o ato, a polícia reprimiu, inclusive com tiros. No 1º de maio se realiza um grande ato operário contra o governo de Getúlio e contra os integralistas. Mario Pedrosa conta: ?Naquele dia eu lancei pela primeira vez no Brasil a consigna da necessidade da construção da IV Internacional. Os comunistas internacionalistas sentimos que era o momento de fazer propaganda dessa necessidade, devido à capitulação do PC alemão, que havia aberto o caminho para Hitler...?

Os integralistas anunciam a realização de uma grande manifestação e desfile militar em São Paulo, para o dia 7 de outubro, comemorando o segundo aniversário da criação da Ação Integralista. Conta Fulvio Abramo: ?Estávamos na sede da União de Trabalhadores Gráficos (UTG) quando nos avisam de um comunicado da Ação Integralista convocando a manifestação. Medeiros foi o primeiro a reagir: ?Não vamos deixar que esses canalhas dominem as ruas. Vamos impedi-los de qualquer maneira.? Todos aprovam. Como secretário da FUA sou o encarregado de convocar uma reunião para discutir a proposta de uma contra-manifestação, armada se fosse preciso...

Dois dias depois foram convocadas todas as organizações e se aprovou a contra-manifestação; a finalidade era dissolver a reunião dos plinianos (seguidores de Plínio Salgado). O povo de São Paulo deveria ser esclarecido com um manifesto e comunicados à imprensa sobre as razões que justificavam tomar dita resolução, pois os integralistas alardeavam que empregariam no Brasil os mesmos métodos de liquidação física dos adversários políticos e das organizações opositoras que estavam sendo aplicadas ferozmente na Alemanha e na Itália; na medida do possível, cada organização trataria de prover elementos de defesa ? eufemismo para dizer armas ? necessários para a concretização das medidas tomadas.?

Os stalinistas eram contrários a este tipo de frente única e sua estratégia era as frentes de colaboração com a burguesia. Entretanto, o comitê regional do PCB, representado por Hermínio Saccheta, contrariando a orientação da direção nacional, se integra na preparação da contramanifestação. Em 3 de outubro, o comitê executivo da LCI realiza uma importante reunião na casa do militante húngaro Rudolf Lauff, valente combatente da guerra civil russa. Era uma pessoa com experiência, que havia combativo um ano e meio no Exército Vermelho de Trotsky, e quem orientou todo o preparativo militar.

Mario Pedrosa recorda, anos depois: "Para concretizar a Frente Antifascista... a LCI, os anarquistas e os socialistas lançaram um jornal chamado O Homem Livre. O PCB não participava da frente única, preferia fazer campanha separado. Apenas participou da grande luta contra os integralistas do dia 7 de outubro na Praça da Sé. Toda a esquerda se uniu contra a manifestação integralista que seria realizada naquele dia. O objetivo dos integralistas era atacar a organização da classe operária, a sede da Federação Sindical de São Paulo e os sindicatos que tinham sede no edifício Santa Helena, na frente do qual haviam planejado o desfile. Nós lutamos contra os fascistas e impedimos a realização da manifestação".

O ENFRENTAMENTO CONTRA OS FASCISTAS E A POLÍCIA NA PRAÇA DA SÉ

Os camisas verdes que chegavam às centenas em trens com contingentes do interior paulista e até do Rio de Janeiro, foram estimados entre 6.000 e 8.000.

Às treze horas, a cavalaria e a infantaria da força pública, com mais de 400 efetivos com fuzis e metralhadoras de tripé, iniciam a ocupação da praça.

Os integralistas se sentiam protegidos com tamanho operativo militar e iniciam seu ato. Entre os hinos fascistas e os gritos de ?fora galinhas verdes?, do outro lado, a situação foi se tornando conflitiva. Houve resistência e alguns enfrentamentos menores. A polícia procura intervir, se escutam vários disparos e começa um corre-corre. Esta primeira confusão se dissolve rápido. Os fascistas começam a se concentrar sobre as escadarias da Catedral. Nesse momento, escuta-se uma rajada de metralhadora, que nunca se pode determinar por quem foi acionada (até se falou em acidente). Isto incitou os ânimos dos antifascistas porque todo mundo pensava que havia sido os integralistas os autores dos disparos. Grandes colunas de integralistas estavam entrando na praça, vindo por trás.

?Os integralistas refeitos do pânico causado pela descarga de metralhadora, começaram a encher as escadarias da Catedral. Pareceu-me que era o momento para iniciar a contramanifestação. Subi ao pedestal de uma coluna e pronunciei breves palavras... uma chuva de balas foi dirigida contra nosso grupo... Correndo ouvi Mario (Pedrosa) dizer: ?estou ferido?, e tropeçou. O agarrei pelo braço com a mão esquerda?, diz Fulvio Abramo.

Ali, caiu ferido de morte o jovem comunista Décio de Oliveira, e morreram 3 policiais e alguns fascistas.

Os distintos grupos políticos estavam distribuídos por regiões da praça e arredores, onde se enfrentavam em luta com os integralistas. ?A batalha prossegue. Os integralistas contam com elementos que não são tão covardes como nós pensávamos, mais por inimizade e desprezo (justificados) que por apego à verdade. Esse grupo continua atirando e ainda não abandona a praça. Finalmente se retira... enquanto a maioria dos ?gloriosos milicianos? foge a toda velocidade da praça, por todos os lados e toda a cidade. À tarde, à noite e nos dias seguintes são recolhidas camisas verdes abandonadas por seus donos nos lugares mais distantes da cidade... foi a grande fuga que passou a ser denominada, daí em diante, de a debandada das galinhas verdes... Plínio Salgado, que não havia saído da sede da Ação Integralista, começa a derramar suas lágrimas e lamentos a partir desse momento?, relata Fulvio Abramo.

O MOVIMENTO FASCISTA É DESARTICULADO, EM SEU INÍCIO, PELA UNIDADE DA ESQUERDA E DO MOVIMENTO OPERÁRIO REVOLUCIONÁRIO

A derrota desarticulou o incipiente movimento fascista, que apenas prosseguiu como variante eleitoral da direita. Por isso, ainda que pareça exagerado, é correto o que disse Oswaldo Coggiola em O Trotskismo na América Latina: ?Se poucos anos antes, na Europa, uma Frente Única semelhante houvesse sido concretizada poderia ter alterado o rumo da História?. E os trotskistas brasileiros foram artífices fundamentais deste triunfo. O dia 7 de outubro de 1934 é uma data para não se esquecer.



Em 1937, Getulio Vargas com o Estado Novo, desfere uma feroz repressão a partir do Estado, com a polícia e a justiça. Muitos se exilam, outros caem presos, como o dirigente operário trotskista Medeiros que morre na prisão. Hermínio Saccheta, secretário-geral do PCB de São Paulo, torna-se trotskista na prisão e, anos depois, quando é liberado, reorganiza o dizimado trotskismo brasileiro.

Porém, essa é outra história...

Fonte:http://www.midiaindependente.org/pt/red/2006/10/361990.shtml?comment=on

Crime do Sistema

Muito se julga hoje em dia bandidos, assaltantes, enfim, criminisos da sociedade. Uma parte da população quer a pena de morte, outra quer mais policiamento, outra quer mais atuação de leis mais severas, e a menor parte, quer mais EDUCAÇÃO.



São tantos julgamentos à tais criminosos, mas quem os julga não sabe, nem procurou saber, como virou bandido, "vagabundo", como dizem.


Um dia, estava trocando idéias pela internet, no site Orkut, com alguns usuários, que são contra minhas idéias. Então, o assunto era sobre a desigualdade social e Anarquia. Com o tempo, o assunto foi crescendo, e chegamos à este que estou colocando agora, o crime social. Um usuário do site, mandou uma postagem dizendo assim:



"Vagabundagem é genética"



Sou totalmente contra a posição dele. É claro que há pessoas que nasceram com algum disturbio, qualquer que seja, mas isso pode ser controlado. Mas, nesse caso, ele generaliza vagabundage, de praticar crimes, como nascença. Isso é errado.



Temos de ver o por quê que crianças, que nasceram como todos, transformaram em criminosos.



Todos nasceram do mesmo modo, com os mesmos aspectos básicos da espécie, e com capacidade de raciocinar. Então, por que alguns se transformam, palavra chave do assunto, em criminosos?



Eu respondi à tal usuario que "vagabundagem" é criada pelo sistema, e tenho a convicção que estou certo.



Vejamos um exemplo de uma crinaça pobre, moradora de algum bairro de classe baixa, ou até mesmo em aglomerados.



A criança nasce em um local ruim para ser criada, com clima tenso todo dia, devido à crimes, constante confrontos policiais, e tráfico de drogas. É claro que não são todos que nascem em região semelhante à esta que se transforma em criminoso, consegue fugir da alienação, mas a tendência é cair na vida do crime. Então, a criança cresce com tudo isso à sua volta, opressão policial na comunidade, sofrendo preconceito, sem incentivo à educação, sem saúde apropriada, vê o pai ralando para conseguir algo para a família, geralmente grande, ou mesmo o pai envolvido com bebidas, a mãe humilde sofrendo para ajudar sustentar a casa, ou segue o caminho da bebida também, e a criança geralmente é obrigada a ir às ruas para conseguir mais dinheiro à familia.


Então, é um ciclo de vida horrível para quem está começando a viver, que não tem o conhecimento da vida como é, e é aliciada por traficantes para usar a droga, e cai no vício. Começam a roubar para ter o dinheiro para pagar ao traficante, que um dia foi uma criança também.


E qual seria o futuro dessa criança, que entra no mundo das drogas?

Mais preconceito, opressão policial, cadeia, morte.

Este foi um exemplo de como HUMANOS viram criminosos, "vagabundos", para a sociedade corrompida.


Agora vemos outros criminosos, vagabundos criados pelo sistema também, mas esses entraram para a vagabundagem porque quiseram:

Grandes ricos e políticos LADRÕES.



Eles ganham muito por mês, e por que querem mais?



Por que a sociedade não rebela contra eles também?



Esses sim são os reais vagabundos, criminosos, que nasceram de "bom berço", boa saúde, boa educação, bons incentivos e conceitos.

Fonte:http://paulonulo.blogspot.com/2008/07/crime-do-sistema_23.html

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Eu, ateu.

Não to postando muito no blog por pura preguiça... Como me disse o baterista do Restos de Nada, uma vez:"Temos que exercer nosso direito a preguiça e derrubar a classe dominante"
KKKKKK

enfim, vou postar um vídeo de um parceiro do Youtube chamado 'Yuri' , curto muito os videos dele, então ai vai um(Falando sobre a imbecíl da Myrian Rios:


mais vídeos:http://www.youtube.com/user/ygrecco

domingo, 12 de junho de 2011

Motivos p/ acreditar em gnomos, segundo Pascal!

"A Aposta de Pascal, criada por Blaise Pascal, longamente apresentada no livro "Penseés", não é um argumento direto da existência do Deus Gnomo Rosa. É um argumento que poderá ser considerado calculista, a favor de um comportamento humano de acordo com a existência do Deus Gnomo Rosa, seguindo a "razão do coração". Este argumento tem mais ou menos o conteúdo que se segue:

* Se você acredita em Gnomo rosa e no Livro rosa gnomista e estiver certo, será beneficiado com a ida ao paraíso.
* Se você acredita em Gnomo Rosa e no Livro rosa gnomista e estiver errado, não terá perdido nada.
* Se você não acredita em Gnomo rosa e no Livro rosa gnomista e estiver certo, não terá perdido nada.
* Se você não acredita em Gnomo rosa e no Livro rosa gnomista e estiver errado, você irá para o fogo eterno".

sábado, 11 de junho de 2011

Cesare Battisti em liberdade

Fim de pesadelo: Battisti agora é imigrante legal no Brasil

Depois da vitória por 6 a 3 no Supremo Tribunal Federal, uma mais categórica ainda no Conselho Nacional de Imigração: por 14 a 2, o colegiado, vinculado ao Ministério do Trabalho, concedeu nesta quarta-feira (22) autorização de permanência para o escritor italiano Cesare Battisti, que poderá residir e trabalhar no Brasil, como imigrante legal, por tempo indeterminado.

Por Celso Lungaretti, em seu blog

Em termos jurídicos, é o ponto final dos apuros de Battisti, depois de debater-se durante sete anos num pesadelo kafkiano. Ele deixara as fileiras da ultraesquerda italiana em 1979 e reconstruíra a vida no exílio, acabando por tornar-se um respeitado novelista na França, ao abrigo da Lei Mitterrand.

Em 2004, contudo, a Itália o escolheu como alvo de uma cruzada vingativa, aproveitando a histeria que grassava nos países do Primeiro Mundo desde o atentado ao WTC, insuflada ad nauseam pela indústria cultural.

Para os estadunidenses, foi uma chance de, sob falsos pretextos, invadirem países soberanos e submetê-los à sua vontade. Os italianos, mais modestos, contentaram-se em desencadear uma perseguição tão espetaculosa quanto inútil, impingindo a lorota de que um personagem secundário dos anos de chumbo seria terrível terrorista – tal qual, séculos atrás, queimavam mulheres fogosas como bruxas e judeus como infiéis.

Depois da bilionária campanha para fazer com que a França desonrasse o compromisso solene que assumira com os perseguidos políticos italianos, os linchadores peninsulares se transferiram com armas e bagagens para o Brasil, onde, ao lado dos quinta-colunas tupiniquins que lhes serviram de escudeiros, acabam de sofrer uma acachapante derrota.

A qual, vale repetir, é definitiva: as escaramuças legais anunciadas pela Itália não têm a mais ínfima possibilidade de alterarem o resultado do jogo após o apito final do árbitro. Servem apenas para alimentar, entre os direitistas e os videotas de lá, uma ilusão que talvez ajude a salvar o premiê Silvio Berlusconi da degola. Espero que não.

Tradição de família

Neto, filho e irmão mais novo de comunistas, engajou-se naturalmente na Juventude do PCI e, aos 13 anos, já participava dos protestos estudantis que marcaram o 1968 europeu.

Depois, no cenário radicalizado do pós-1968, o ardor da idade, também naturalmente, o foi conduzindo cada vez mais para a esquerda: do PCI à Lotta Continua, desta à Autonomia Operária, até desembocar no Proletários Armados para o Comunismo, pequena organização regional com cerca de 60 integrantes.

Participou de assaltos para sustentar o movimento – as expropriações de capitalistas – e não nega. Mas, assustado com a escalada de violência desatinada – cujo ápice foi a execução do sequestrado premiê Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas – desligou-se em 1978, logo após o primeiro assassinato reivindicado por um núcleo dos PAC, do qual só tomou conhecimento a posteriori, recebendo-o com indignação.

Já era um mero foragido sem partido quando os PAC vitimaram outras três pessoas, no ano seguinte.

Detido, foi condenado em 1981 pelo que realmente fez (participação em grupo armado, assalto e receptação de armas), mas a uma pena rigorosa demais (12 anos), característica dos anos de chumbo na Itália, quando se admitia até a permanência de um suspeito em prisão preventiva por mais de dez anos.

Resgatado em outubro de 1981, por uma operação comandada pelo líder dos PAC, Pietro Mutti, abandonou a Itália, a luta armada e a própria participação política, ocultando-se na França, depois no México, onde iniciou sua carreira literária.

Aceitando a oferta do presidente François Mitterrand – abrigo permanente para os perseguidos políticos italianos que se comprometessem a não desenvolver atividades revolucionárias em solo francês –, levava existência pacata e laboriosa há 14 anos, quando, em 2004, a Itália o escolheu como alvo.

Tinha sido figura obscura e irrelevante nos anos de chumbo, quando cerca de 600 grupos e grupúsculos de ultraesquerda se constituíram na Itália. O fenômeno ganhou maiores proporções porque muitos militantes sinceros de esquerda foram levados ao desespero pela traição histórica do PCI, que tornou a revolução inviável num horizonte visível ao mancomunar-se com a reacionária, corrupta e mafiosa Democracia Cristã.

Destes 600, um terço esteve envolvido em ações armadas.

Por quê eu?

Nem os PAC tinham posição de destaque na ultraesquerda, nem Battisti era personagem destacado dos PAC. Foi apenas a válvula de escape de que o delator premiado Pietro Mutti e outros arrependidos, em depoimentos escandalosamente orquestrados, serviram-se para obter reduções de pena: estava a salvo no exterior, então poderiam descarregar sobre ele, sem dano, as próprias culpas.

Num tribunal que só faltou ser presidido por Tomás de Torquemada, Battisti acabou sendo novamente julgado na Itália e condenado à prisão perpétua em 1987.

A sentença se lastreou unicamente no depoimento desses prisioneiros que aspiravam a obter favores da Justiça italiana – cujas grotescas mentiras se evidenciaram, p. ex., na atribuição da autoria direta de dois homicídios quase simultâneos a Battisti, tendo a acusação de ser reescrita quando se percebeu a impossibilidade material de ele estar de corpo presente em ambas as cidades.

Depois, provou-se de forma cabal que Battisti não só fora representado por advogados hostis (pois defendiam os arrependidos cujos interesses conflitavam com os dele), como também falsários (pois forjaram as procurações que os davam como seus patronos).

Battisti escapara das garras da Justiça italiana, então valia tudo contra ele. Mas, ainda, como vilão menor.

Passou a ser encarado como um vilão maior quando alcançou o sucesso literário. Tinha muito a revelar sobre o macartismo à italiana dos anos de chumbo, tantas vezes denunciado pela Anistia Internacional e outros defensores dos direitos humanos.

Foi aí, em 2004, que a Itália direcionou suas baterias contra Battisti, investindo pesado em persuasões e pressões para que a França esquecesse a palavra empenhada por um presidente de verdade, François Mitterrand.

Ao mesmo tempo que concedia a extradição antes negada, a França, por meio do seu serviço secreto, facilitou a evasão de Battisti. A habitual duplicidade francesa.

Vítima de dois sequestros no Brasil

E o pesadelo se transferiu para o Brasil, onde o escritor teve a infelicidade de encontrar, no STF, dois inquisidores dispostos a tudo para entregarem o troféu a Silvio Berlusconi.

Preso em março de 2007, seu caso deveria ter sido encerrado em janeiro de 2009, quando o então ministro da Justiça Tarso Genro lhe concedeu refúgio.

Mas, ao contrário do que estabelecia a Lei do Refúgio, bem como a jurisprudência consolidada em episódios anteriores, o relator Cezar Peluso manteve Battisti sequestrado, na esperança de convencer o STF a revogar (na prática) a Lei e jogar no lixo a jurisprudência.

Apostando numa hipótese coerente com suas convicções pessoais (conservadoras, medievalistas e reacionárias), Peluso manteve encarcerado quem deveria libertar.

Ele e o então presidente Gilmar Mendes atraíram mais três ministros para sua aventura que, em última análise, visava erigir o Supremo em alternativa ao Poder Executivo, esvaziando-o ao assumir suas prerrogativas inerentes. A criminalização dos movimentos sociais também fazia, obviamente, parte do pacote.

Foram juridicamente aberrantes as duas primeiras votações, em que o STF, por 5x4, derrubou uma decisão legítima do ministro da Justiça e autorizou a extradição de um condenado por delitos políticos, ao arrepio das leis e tradições brasileiras.

Como na nossa ditadura militar, delitos políticos foram falciosamente metamorfoseados em crimes comuns – a despeito da sentença italiana, dezenas de vezes, imputar a Battisti a subversão contra o Estado italiano e enquadrá-lo numa lei instituída exatamente para combater tal subversão!

A blitzkrieg direitista foi detida na terceira votação, quando Peluso e Mendes tentavam automatizar a extradição, cassando também uma prerrogativa do presidente da República, condutor das relações internacionais do Brasil.

Contra este acinte à Constituição insurgiu-se um ministro legalista, Carlos Ayres Britto. Também por 5x4, ficou definido que a decisão final continuava sendo do presidente da República, como sempre foi.

Sabendo que Luiz Inácio Lula da Silva não cederia às afrontosas pressões italianas, o premiê Silvio Berlusconi já se conformava com a derrota em fevereiro de 2010, pedindo apenas que a pílula fosse dourada para não o deixar muito mal com o eleitorado do seu país.

Mesmo assim, quando Lula encerrou de vez o caso, Peluso apostou numa nova tentativa de virada de mesa. Ao invés de libertar Battisti no próprio dia 31 de dezembro de 2010, que era o que lhe restava fazer segundo o ministro Marco Aurélio de Mello e o grande jurista Dalmo de Abreu Dallari, manteve-o, ainda, sequestrado.

E o sequestro, desta vez, saltou aos olhos e clamou aos céus. Só não viu quem não quis.

O próprio STF acabou decidindo, por dois terços dos votos (só Ellen Gracie embarcou na canoa furada de Peluso e Mendes), que não havia mais motivo nenhum para o processo prosseguir nem para Battisti ser mantido preso.

Agora, com sua situação de imigrante legal regularizada, Battisti finalmente encontrará a paz que veio buscar entre nós, acreditando que fôssemos todos brasileiros cordiais. Para sorte dele e em benefício da imagem do país junto a quem não usa antolhos, alguns ainda somos...

Fonte: Blog Náufragos da Utopia e vermelho.org

sexta-feira, 22 de abril de 2011

As máscaras e o Black Bloc

By LA_BATTAGLIA 07/07/2001 At 01:43

Uma matéria sobre as origens do Black Bloc para desmistificar o caráter "porra-louca" que recebe de alguns camaradas, no mínimo, desinformados...

As máscaras e o Black Bloc : a história pré-Seattle


“Aqueles que possuem autoridade, temem a máscara pelo seu poder em identificar, rotular e catalogar comprometido: em saber quem você é... nossas máscaras não servem para esconder ou ocultar a nossa identidade, mas para revelá-la... hoje nós devemos dar um rosto a essa resistência; colocando nossas máscaras mostramos a nossa união; e levantando as nossas vozes nas ruas, nós botamos pra fora toda a raiva contra os poderoso sem rosto...”
Tirado de uma mensagem imprimida dentro das 9000 máscaras distribuídas no dia 18 de junho de 1999, carnaval anti-capitalista, que destruiu o distrito financeiro central de Londres.
Nos protestos contra a OMC em Seattle ano passado, havia entre 100 e 300 anarquistas e outros vestidos de preto que literalmente demoliram as vitrines das odiosas corporações multinacionais. Desde então a tática do Black Bloc vem despertando o interesse e chamando a atenção de diferentes pessoas preocupadas com transformação social. Todos os setores da classe média alta, progressistas e liberais tem pregado moralmente a grande distância sobre como não existe vez para tal comportamento no movimento deles. Ao mesmo tempo, o Black Bloc em Seattle inspirou e renovou o interesse nas táticas militantes, as quais não aceitam autoridade e nem baixam a cabeça perante o seu poder. O Black Bloc N30, junto com muitos outros aspectos dos eventos de Seattle, tem inspirado também anarquistas radicais a parar de se esconder dentro de grupos ativistas liberais com pautas reformistas, e começar a Ter mais voz ativa nas suas exigências pela revolução e total transformação social. Além da rápida proliferação de organizações e publicações anarquistas, está clara a evidência do ressurgimento do anarquismo nos EUA, que pode ser vista nos Black Blocs maiores, os quais estavam presentes no dia 16 de abril em Washington DC, na Assembléia Nacional dos Republicanos e Democratas, neste verão. Pra bem ou pra mal, parece que no último ano, o Black Bloc virou uma tradição americana, e tudo começou com aqueles bravos garotos e garotas em Seattle...
Será?! De fato, 30 de novembro esteve longe de ser a primeira vez que um grande grupo de radicais vestidos de preto com máscaras pretas estiveram prontos para se empenhar na militância com solidariedade e anonimato. O Black Bloc como uma associação pra estratégia em protesto pode ter mais de 20 anos. Sua origem, de fato, vem dos Autônomos Europeus, um movimento social radical que não necessariamente se proclamou anarquista, mas muitas das suas táticas e idéias tem se tornado bem apreciadas e adotadas pelos auto-proclamados anarquistas.


Sobre autonomia
Autonomia, autônomos, ou autonomistas têm sido os nomes usados por vários movimentos populares de transformação social e contra-cultura na Itália, Alemanha, Dinamarca, Holanda e outras partes da Europa nas últimas três décadas. Todos esses diferentes movimentos têm procurado se opor radicalmente à autoridade, dominação e violência, onde quer que ela exista na vida cotidiana ( quase todo lugar). Autonomia, neste caso, não significa um tipo de superioridade complexa regional, ou isolamento, como o nacionalismo, estatismo... e também não significa autonomia individual ás custas da maioria, como existe na base do capitalismo. O que os autônomos valorizam e desejam, é a liberdade para os indivíduos que escolheram outros com os quais possa dividir afinidades, e unir-se com eles para sobreviver e preencher todas as necessidades e desejos coletivamente, sem interferência da ganância, indivíduos violentos ou enormes burocracias desumanas.
Os primeiros assim chamados autônomos foram aqueles indivíduos envolvidos no movimento Autonomia Italiana, que começou no quente verão de 1969, uma época de intensa inquietação social.
Através da década de 70, um grande movimento pela transformação social total era formado na Itália pelos grupos autônomos de operários, mulheres e estudantes. Capitalistas, sindicatos e a burocracia estatistas do Partido Comunista não tinham nada a ver com esse movimento, e de fato, deu duro para reprimí-lo e pará-lo.
Ainda, a estrutura do poder estava, frequentemente, prejudicada em como lidar com a recusa completa, de vários setores da população, a obedecer as ordens das autoridades. Apesar da rápida proliferação da ação direta, greves moratórias, ocupações de massa, batalhas urbanas, ocupações de universidades e outras ações radicais popularmente apoiadas durante a década de 70, o movimento dos Italianos “acalmou-se”. Isto era em parte, devido aos ataques violentos, prisões e assassinatos de radicais pela polícia e pelo governo centralizador do Partido Comunista. Ao mesmo tempo, a reação à esta escala de violência estatal era, frequentemente, a escolha do terrorismo pelos grupos de guerrilha urbana radical.
O terrorismo de auto-defesa, muitas vezes serviu para afastar as pessoas do movimento público de transformação social. Alguns escolheram se tornar mais militantes e reservados enquanto outros abandonaram a política, para viver uma aparente pacífica vida de obediência à autoridade.

Construindo o poder de enfrentamento revolucionário - A cultura dos autônomos
Apesar do potencial revolucionário do Autonomia Italiana de 70 ter sucumbido, sua agitação, confiança e “atrevimento” serviram de inspiração para os jovens da Alemanha Ocidental de 1980. Inspirados também pelo movimento squatter de Amsterdam e as organizações jovens na Suíça, Alemanha e outras cidades maiores, começaram a formar a sua própria cultura autônoma com grupos sociais baseados na resistência radical e formas de vida alternativas.
A direção e a composição da organização radical na Alemanha Ocidental de 1980 era em parte determinado pelo domínio da recessão econômica e os caminho que ela seguiu. Por causa das conecções bem-estabelecidas entre os industriais e o governo alemão, os efeitos da recessão não foram tão sentidos pelos blue collar workers, mas pelos jovens que acharam impossível assegurar trabalho e moradia, e, que antes haviam se mudado da casa do pais e se tornaram economicamente e socialmente “independentes”.
Consequentemente, os motivos para a mobilização da juventude autônoma incluíram abalar o conformismo da sociedade rural alemã e da família nuclear, sérias deficiências domésticas, alto desemprego –bem como o status ilegal de aborto e planos governamentais para a expansão massiva do poder nuclear.
Como resultado da recessão econômica e visitas aos subúrbios, no fim de 1970, enormes regiões prediais residenciais, em diferentes cidades interioranas alemãs, especialmente na Alemanha Ocidental, foram abandonadas pelos empreendedores e as agências do governo. Ocupar esses prédios era uma opção viável para os jovens empobrecidos que procuravam independência da casa da família nuclear. Comunidades squatters cresceram na vizinhança de Kreusberg, em Berlim; os squats de Haffenstrasse, em Hamburgo; e em outros pontos de concentração. A pedra angular dessas comunidades era a vida em comum, e a criação de centros sociais radicais: infoshops, livrarias, cafeterias, lugares de encontro, bares, galerias de arte, e outros espaços multivalentes, onde as raízes políticas artísticas e culturais são desenvolvidas como uma alternativa para a vida da família nuclear, utopias de TV, e “cultura” pop de massa. Desses espaços sociais seguros, cresceram maiores iniciativas radicais para lutar contra o poder nuclear, ou centralizador; destruir a sociedade patriarcal e os papéis de gênero; mostrar solidariedade com os oprimidos do mundo atacando corporações multinacionais européias ou instituições financeiras como o Banco Mundial; e depois da reunificação alemã, lutar contra o crescente neo-nazismo.
Iniciativas semelhantes para uma vida alternativa como resistência estavam acontecendo nos anos 80 ( e em alguns lugares, bem antes) na Holanda, Dinamarca, e qualquer lugar da Europa Setentrional. Eventualmente, todas essas vivências norte-européias em grupos sociais descentralizados, os quais estavam dedicados a criar uma sociedade não-coercitiva e anti-hierárquica, tornaram-se rotulados como Autônomas.
Com o tempo, as idéias e táticas autonomistas também migraram através da reunida Cortina de Ferro européia. Eu, pessoalmente, tenho visitado centros sociais autônomos radicais na Inaglaterra, Espanha, Itália, Croácia, Eslovênia e República Tcheca.

Repressão linha dura, resistência militante e o Black Bloc
Desde o começo, a Alemanha Ocidental não encarou bem os jovens autônomos, quer quando eles estavam ocupando usinas nucleares ou prédios desabitados. No inverno de 1980, o governo da cidade de Berlim decidiu reprimir duramente os milhares de jovens squatters pela cidade: eles decidiram incriminá-los, atacá-los e despejá-los nas ruas geladas do inverno. Essa foi uma ação muito mais chocante e diferente na Alemanha, do que seria nos EUA, e teve como resultado o repúdio e condenação da polícia e do governo pela opinião pública.
De 1980 em diante, houve um ciclo crescente de prisões em massa, batalhas urbanas, e novas ocupações em Berlim e no resto da Alemanha. Os autônomos não estavam assustados, e cada despejo era respondido como novas ocupações. Quando os squatters de Freiburg foram presos, passeatas e manifestações os apoiaram, e, condenaram a política de despejo da polícia estatal, em quase todas as grandes cidades do país. Naquele dia, em Berlim, posteriormente chamado “sexta-feira negra”, 15000 a 20000 pessoas tomaram as ruas e destruíram uma área de consumo da classe média alta.
Esse era o caldeirão fervente de opressão e resistência, do qual o Black Bloc surgiu...
Em 1981, o governo alemão começou a legalizar certo squats, numa tentativa de dividir a contra-cultura e marginalizar os segmentos mais radicais. Mas, essas táticas eram lentas demais para pacificar o movimento popular radical –especialmente, desde 1980-81 não só se havia visto tamanha brutalidade como os squatters, mas além disso, a maior mobilização policial da Alemanha desde o III Reich, com o objetivo de atacar manifestantes não-violentos na “livre república de Wendland”, um acampamento de 5000 ativistas que bloquevam a construção da usina Gorlebein de lixo nuclear.
Mesmo anteriormente, ardentes pacifistas haviam sido radicalizados pela experiência da violenta repressão policial contra diversos squats e ocupações.
Em resposta à violenta repressão estatal, os ativistas desenvolveram a tática do Black Bloc: eles foram protestar e marchar, usando capacetes pretos de motoqueiros, máscaras de ski, e vestindo-se de preto (ou, para os mais preparados, estofamento de espuma e botas com ponta de aço, carregando seus próprios escudos). No Black Bloc, os autônomos e outros radicais poderiam se defender ou desviar, mais eficientemente, dos ataques policiais; sem serem reconhecidos como indivíduos, evitando prisões e batidas posteriores. E, como todos rapidamente perceberam, ter um grupo grande de pessoas, todas vestidas com a mesma cor de roupa, com os rostos cobertos, não só ajuda a escapar da polícia, mas também deixa mais fácil a tarefa dos sabotadores em destruir vitrines, bancos, e muitos outros símbolos materiais do poder do capitali$mo e do Estado. Nesse sentido, o Black Bloc é uma forma de militância que alivia a problemática entre desobediência civil não-violenta e, sabotagem e “terrorismo” guerrilheiro.

Realizações do Black Bloc e da resistência Autônoma
Black Blocs, militância autônoma e resistência popular ào Estado-polícia e à Nova Ordem Mundial se espalharam entre os europeus nos anos 80.
Apesar dos radicais holandeses não se intitularem autônomos desde o começo (até 1986), os ativistas contraculturais holandeses dividiram táticas, organizaram estruturas e militâncias com os auto-proclamados Autônomos. O movimento squatter da Holanda realmente começou em 1968, e por volta de 1981, mais de 1000 casas e apartamentos foram ocupadas em Amsterdam, e havia por volta de 15000 squats no resto do país. Restaurantes, bares, cafés e centros de informação ocupados eram lugar comum, e os organizados squatters (costumeiramente chamado kraakers) tinham seu próprio conselho para planejar a direção do movimento e sua própria estação de rádio.
Contudo, alguns autônomos holandeses se recusaram a usar máscaras de ski enquanto estavam no Black Bloc, isso não quer dizer que o movimento deixou de ser militante. Um livro sobre o movimento squatter holandês mostra que “ desde o início havia existido uma ‘brigada de capacetes pretos’, a qual parecia Ter entrado numa batalha”.
Batalhas nos despejos dos squats de Amsterdam, frequentemente, mostravam a construção de enormes barricadas e, encurralados squatters arremessando mobília e outros projéteis, de vários tamanhos e formatos, pelas janelas, visando abater a polícia. Nos anos iniciais, existiam certos limites para o uso da violência, a qual os squatters usariam para retaliar os ataques policiais. De qualquer maneira, em 1985, quando um squatter chamado Hans Kok morreu sob custódia policial, ao ser preso durante um brutal despejo e evacuação, os limites foram superados. Seguindo as notícias de sua morte, uma noite de ávida destruição reinou em Amsterdam, e mesmo carros da polícia foram queimados em frente de vários distritos. Um squatter disse: “todos tinham a idéia, agora nós usaremos dos últimos meios, apenas antes das armas mesmo: Molotovs...todos caminhavam com Molotovs em seus bolsos, todos tinham garrafas cheias com gasolina...era o novo método de ação direta”. Apesar da morte de Hans Kok e da resposta á altura terem tido um efeito negativo sobre o movimento, a nova estratégia se mostrou útil em alguns meios ativistas. Em 1985, o grupo holandês Ação Anti-racista (RARA), fez uma campanha bem-sucedida forçando a rede de supermercados holandeses MARKO a sair da África do Sul: a campanha foi realizada através de numerosos bombardeios, extremamente caros e danosos para eles, nas lojas e escritórios da MARKO.
Na Alemanha, em 1986, crescentes ataques policiais e tentativas de despejo, contra um complexo de casas ocupadas em Hamburgo, chamada Haffenstrasse, foram recebidas pela contra-ofensiva marcha de 10000 pessoas, entre elas, no mínimo, 1500 do Black Bloc, carregando uma faixa enorme que dizia: “Construa o poder de enfrentamento revolucionário!”. No fim da passeata, o Black Bloc foi capaz de, vitoriosamente, levar á cabo uma batalha de rua, na qual a polícia bateu em retirada. No dia seguinte, 13 lojas de departamentos foram queimadas, causando um prejuízo de $10 milhõe$ de dólare$.
Naquele mesmo ano, o desastre de Chernobyl trouxe uma nova onda de manifestações contra a construção de novas usinas nucleares na Alemanha. Um relato dessas manifestações anti-nuclear mostrou: “essas cenas lembram uma ‘guerra civil’; capacetes, Autônomos e anarquistas armados com estilingues, Molotovs e maçaricos colidiram brutalmente com a polícia, a qual usou canhões d’água, helicópteros e gás CS (oficialmente banido para uso em civis)”.
Em junho de 1987, quando Ronald Reagan foi à Berlim, cerca de 50000 pessoas se manifestaram contra a Guerra Fria, incluindo 3000 pessoas do Black Bloc. Um par de meses depois, os ataques policiai à Haffenstrasse se intensificaram novamente. Em novembro de 1987, moradores e milhares de outros autônomos fortificaram o complexo, construíram barricadas nas ruas e lutaram contra a polícia cerca de 24 horas. No fim, a cidade decidiu legalizar as residências ocupadas.
Mais de 10 anos antes de Seattle e o protesto contra a OMC, os Autônomos mobilizaram um evento semelhante com um grande grupo de resistentes. Em setembro de 1988, o Banco Mundial e o FMI se encontraram em Berlim. Os Autônomos se valeram deste encontro como foco para a resistência mundial contra o capitali$mo corporativo globalizante e, contra a destruição governamental de bases autônomas e comunitárias. Milhares de ativistas de toda a Europa e EUA foram mobilizados, e 80000 manifestantes foram “encontrar” os banqueiros (no mínimo, 30000 a mais que Seattle). A polícia, completamente superada em número, e a segurança privada do evento tentaram manter a “ordem” banindo todos os manifestantes e atacando brutalmente qualquer assembléia pública, mas as revoltas ainda estraçalharam os centros consumistas de classe média (já era tradição).

Black Blocs pré-Seattle
Em novembro de 1999, a tática do Black Bloc parecia nova para muitos americanos porque, em parte, as ações e as idéias do movimento Autônomo europeu eram obscurecidas ou ignoradas pela mídia americana e quase nem foram divulgadas. Contudo, a ignorância pelo Black Bloc também provém do fato que muitos americanos recebem notícias de acontecimentos regionais de uma mídia manipuladora, a qual ignora quaisquer acontecimento que não servem para os seus propósitos, apresentando qualquer evento que tom o lugar como um espétaculo singular, desconectado do passado e do futuro, a ser esquecido em pouco tempo, mesmo se aconteceu recentemenete.
Radicais nos EUA nunca foram totalmente ignorantes a respeito das idéias e ações dos Autônomos europeus, e o desenvolvimento da subcultura punk/hardcore, dos anos 80, nos EUA, se espelhou na cultura Autônoma. Desde o começo de 1990, anarquistas e outros radicais nos EUA, estavam usando máscaras nas passeatas e protestos, criando laços de solidariedade entre os manifestantes e o anonimato perante as autoridades.
Enquanto durava a Guerra do Golfo, um protesto nas ruas de Washington D.C. incluiu o Black Bloc, que quebrou as vidraças do prédio do Banco Mundial. Naquele mesmo ano, no Columbus Day, em São Francisco, um Black Bloc apareceu para mostrar à resistência militante, o contínuo genocídio da dominação norte-americana pelos europeus. Pessoalmente, o maior Black Bloc que eu já vi foi no M4M (millions for Mumia), na Filadélfia, em abril de 1999.
Eu diria que havia, no mínimo, 1500 vestidos de preto, mascarados e carregando faixas como: “Vegans por Mumia”. Apesar de não ter acontecido nenhuma batalha de rua e, particularmente, nenhuma destruição de propriedade privada, alguns garotos entraram em um estacionamento, ao longo da passeata, e subiram no teto, agitando a bandeira negra.

O futuro global da máscara preta
O símbolo do militante autônomo mascarado se espalhou pelo terceiro mundo. Ao mesmo tempo que o NAFTA, política econômica destrutiva neoliberal foi declarado no dia 1 de janeiro de 1994, a revolta guerrilheira explodiu em Chiapas, um estado do sul do México.
O levante procurava criar espaços, para o desenvolvimento de uma organização social autônoma entre a marginalizada população indígena. A ala armada dessa luta pela autonomia comunitária e a democracia direta sem coerção ou hierarquia, tem sido e continua sendo, os Zapatistas, homens e mulheres que sam máscaras negras sempre que aparecem em público. Muitos autônomos e anarquistas têm os visitado e tentado ajudá-los com conhecimento, dinheiro, materiais, e criando solidariedade e atenção internacional para a situação em Chiapas.
Voltando a Alemanha, os Autônomos passam por tempos difíceis. Dizem por aí que os squatters anteriores tomavam conta de, no mínimo, 165 grandes apartamentos na Alemanha Ocidental, mas até 1997, sobraram apenas 3 apartamentos. Legalizar alguns squats enquanto brutalmente despejavam outros, funcionou como política eficiente para o Estado-polícia. Muitas pessoas que vivem em squats legalizados estão impedidos de virar o jogo, encorajando e expressando solidariedade com estratégias praticadas por outros squatters, e essa marginalização deixa mais fácil a derrota squatter, nas batalhas urbanas, pelas crescentes forças policiais.
O ressurgimento do neo-nazismo, no que um dia foi Alemanha Ocidental, e em outras áreas do país significou maiores problemas para os Autônomos alemães. Eles enfrentam a violência e o assassinato de ataques neo-nazistas, onde essas gangues policiam as ruas como uma “tropa contra punks e imigrantes”.
A maior parte do tempo e esforço dos Autônomos, vai para a organização de ações e grupos anti-fascistas, mas isso também significa negligenciar as tarefas para o desenvolvimento de alternativas para uma sociedade anti-autoritária, um dos objetivos originais dos Autônomos. “Antifa” ou grupos anti-fascistas levam os Autônomos a confrontos ainda mais violentos com a polícia alemã, que basicamente apoia os grupos neo-nazistas e sua ideologia nacionalista, racista –isso quando oficiais da polícia não estão diretamente ligados a grupos fascistas.
Rumores dizem que muitos militantes na Europa Sententrional, onde o Black Bloc têm sido uma estratégia de manifestação comum, têm desistido ao mesmo tempo que paravam de atingir seu objetivo. O poder de repressão estatal tem desenvolvido e usado forças tecnológicas, legais e físicas ainda maiores para isolar, observar, perseguir e localizar os envolvidos com os Black Blocs. Um processo semelhante está acontecendo nos EUA, com o ressurgimento das táticas ao estilo COINTELPRO, tendo como alvo os radicais que se opõe ao império estatal americano de capitali$mo globalizante.
Mesmo que o Black Bloc continue como estratégia, ou seja abandonado, certamente, serviu ao seu propósito. Em certas épocas e lugares, o Black Bloc efetivamente, levou as pessoas a agir em solidariedade coletiva contra a violência do capitalismo e do Estado. É importante que nós não fiquemos presos à nostalgia como um ritual ou uma tradição ultrapassada, nem rejeitar tudo porque, ás vezes, parece inapropriado.
Em vez disso, devíamos continuar lutando pragmaticamente (e teoricamente), para preencher nossa necessidades e desejos individuais através de várias táticas e objetivos, quando elas forem apropriadas ao momento específico. “Disfarçar-se” como um Black Bloc tem sua hora e seu lugar, assim como as outras estratégias que se confrontam com ela...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Anti-Religião

Alguém já ouviu falar em guerra ateísta ou homem bomba ateu? Mundo sem religião = mundo em paz.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Por que Apoio Cesare Battisti ?

Cesare é um ativista político que militou numa organização da luta armada italiana nos anos 1970, foi preso, acusado de participar de uma série de assassinatos, fugiu da prisão, se exilou primeiro no México, depois na França e lá, depois se estabelecer sob abrigo da doutrina Miterrand, foi preso e quase extraditado sob pressão do governo Berlusconi. Quando estava para ser mandado de volta à Itália, fugiu para o Brasil onde novamente foi preso (e permanece preso há quatro anos).
Há algumas questões que ajudam a entender melhor o caso:

* Qual o significado da luta armada na Itália dos anos 1970?

Ao contrário do que diz a imprensa empresarial (e mesmo parte da imprensa de esquerda), a luta armada italiana dos anos 1970 não foi um fenômeno marginal. Embora a Itália nestes anos fosse uma democracia liberal, contando inclusive com governos com participação da esquerda, ela viu florescer a oposição armada de centenas de grupos, muitos deles pequenos como os PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) de Battisti. Essa oposição armada tinha raízes nos movimentos sociais italianos cuja força conseguiu prolongar por dez anos os eventos de 1968 e 1969, o que é chamado por lá de “o longo 1968″. Neste período, as ações armadas eram expressões de grupos enraizados nos movimentos sociais e, por isso, tinham certo respaldo popular e foram relativamente disseminados, mobilizando milhares de militantes. Sem entrar no mérito da legitimidade ou da adequação estratégica da luta armada naquele contexto, os fatos são: 1) a luta armada na Itália não foi marginal; 2) muitos dos grupos que usavam desta estratégia de luta estavam ligados aos amplos movimentos sociais italianos (ou pelo menos estiveram, nos primeiros anos); 3) essas ações envolveram muitos milhares de militantes. Exatamente porque foi o mais disseminado movimento de luta armada da Europa ocidental do pós-guerra, a repressão por lá foi proporcional à ameaça, fazendo com que esses anos também sejam conhecidos como os “anos de chumbo”. No combate aos grupos da luta armada, foram criadas leis de exceção e por todo lado foram denunciados abusos que envolvem prisões arbitrárias, julgamentos controlados, torturas em delegacias e assassinatos cometidos por grupos paramilitares ligados ao estado.

* Cesare é culpado pelos assassinatos de que é acusado?

Eu não sei a resposta e, a meu ver, ela não é relevante para a defesa da sua não extradição. Ele alega que não cometeu os crimes e que a principal evidência contra ele são depoimentos de ex-companheiros que provavelmente o acusaram para não serem condenados (por delação premiada). Quando um militante estava numa situação protegida, normalmente no exterior, era praxe que os demais companheiros presos jogassem no ausente todo o peso das acusações para reduzir a própria pena. A questão, para a extradição, não é principalmente se ele participou ou não dos assassinatos, mas se o julgamento dele foi justo e se ele está sendo perseguido politicamente.


* O julgamento de Cesare Battisti foi justo?

Não foi. A imprensa empresarial e o estado Italiano gostam de ressaltar que a Itália é uma democracia liberal que concede amplo direito de defesa aos seus acusados, mas essa afirmação não se aplica aos acusados de crimes ligados à luta armada nos anos de chumbo. Os detalhes do caso são complicados e podem ser encontrados nos sites que fazem a defesa do Cesare, mas, basicamente, ele foi julgado à revelia, sem direito a uma defesa formulada por ele mesmo e a principal prova da acusação é um testemunho de um ex-companheiro por meio de delação premiada. Além disso, o estado italiano é acusado de adulterar documentos e conseguir depoimentos por meio de tortura.

* Os crimes que Cesare supostamente cometeu são políticos? A perseguição que ele sofre é de natureza política?

Como o Cesare alega não ter participação nos assassinatos e não teve um julgamento justo, a questão principal não é se os crimes foram políticos, mas se a perseguição que ele sofre por esses crimes é de natureza política – e isso me parece inquestionável. O discurso da acusação diz que ele é um criminoso comum, um assassino em série. Mas que criminoso comum mobiliza toda a classe política italiana para ser condenado? Por qual motivo, senão político, a Itália ameaça o Brasil com sanções pela não extradição? Quando Cesare vivia na França há anos, asilado com base na doutrina Miterrand (segundo a qual a França dava asilo a guerrilheiros que renunciassem a luta armada), a imprensa italiana noticiou que Berlusconi havia oferecido a exploração de uma linha de alta velocidade na Itália para a empresa francesa TGV em troca da extradição dos ex-militantes italianos abrigados naquele país. Semanas depois, o estado francês rompeu com a doutrina Miterrand e prendeu Cesare Battisti, o primeiro de muitos ativistas italianos asilados na França. É razoável supor que todo esse esforço foi feito para que a justiça fosse feita para um “crime comum”??? Cada vez que o estado italiano reage com fúria e agressividade a um movimento do governo brasileiro no sentido de abrigar o Battisti, mais se evidencia que a perseguição a ele é de natureza política e que, portanto, ele pode não ser extraditado por fundado receio de perseguição política (como diz textualmente o tratado de extradição entre Brasil e Itália).


* Por que a esquerda italiana quer a sua extradição?

Muitas vezes a imprensa ressalta que até a esquerda italiana pede a extradição de Battisti, o que provaria que ele é um criminoso comum (pois sequer a esquerda local reconheceria suas ações como políticas). O que esquecem de dizer é que a luta armada na Itália foi feita contra a esquerda institucional italiana – e, portanto, a esquerda parlamentar, tanto quanto a direita, buscam a vingança contra os militantes armados. A luta armada de esquerda na Itália era uma das vertentes de um movimento mais amplo chamado de “esquerda extra-parlamentar” que abrigava expressões não institucionais da esquerda e dos movimentos sociais. Os partidos políticos de esquerda eram inimigos destas tendências e quando estiveram no poder, participaram ativamente da repressão. É isso que explica por que parte da esquerda italiana quer a cabeça de Battisti. Mas isso não significa que Cesare não tenha apoio na sociedade civil italiana não ligada aos partidos. Curiosamente, nenhum desses apoiadores italianos de Battisti (entre eles importantes intelectuais e organizações de direitos humanos) é entrevistado nas peças de propaganda veiculadas pela imprensa empresarial brasileira.

É por esses motivos que acredito que o Cesare não deve ser extraditado e que aplaudo a coragem com que o governo brasileiro ofereceu abrigo para esse ativista que há mais de vinte anos busca viver a vida em paz, no contexto e nos desafios de um novo tempo.

Fonte:Cesarelivre.org

domingo, 10 de abril de 2011

Nota Oficial em repúdio à manifestação em apoio ao Deputado Federal Jair Bolsonaro

O Movimento Anarco Punk vem, por meio desta nota, expressar total repúdio ao ato realizado por grupos de extrema-direita esta manhã (09) no Vão Livre do MASP. Este manifesto busca ressaltar a relevância social de que analisemos essa tentativa de levante dos grupos direitistas e intolerantes que vêem, há anos, se organizando na cidade de São Paulo, no Brasil e em todo o mundo, buscando assim uma forma concreta de combate. Somos todos/as vítimas da intolerância.

O ato a favor do Deputado Federal Jair Bolsonaro foi organizado por sádicos direitistas que assumiram publicamente serem homofóbicos. São indivíduos que se organizam através de grupos paramilitares (denominados por eles como “extra-quartel”) que tem como prática ações de violência contra minorias étnicas, como negros/as, nordestinos/as e descendentes de imigrantes, além de toda comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, e Transgêneros).

Junto aos movimentos sociais, comparecemos ao Contra-Ato, organizado para demonstrar publicamente a não aceitação da sociedade de grupos com características militaristas, fascistas e violentas. Em quantidade numérica superior aos Fascistas pró-Bolsonaro, demonstramos que em uma cidade marcada pela presença do/a negro/a, pelo trabalho dos/as imigrantes (nordestinos/as, asiáticos/as, africanos/as e etc) e pela diversidade, ideais racistas, homofóbicos e intolerantes nunca serão aceitos.

Acrescentamos também, que as duas pessoas ‘detidas’ pela polícia, que faziam parte do contra-ato, foram encaminhados à delegacia pois estavam sem documento, não existindo acusações concretas contra as mesmas. Ao contrário dos pró-Bolsonaro que respondem a diversos processos por agressão, racismo, formação de quadrilha, entre outros.

Viemos a público denunciar que as organizações que convocaram o ato demonstraram que a intolerância é a bandeira que os une. Nunca uma manifestação pública organizada por esses grupos, conseguiu aglutinar as várias facções intolerantes de São Paulo, como Carecas do ABC, Carecas do Subúrbio, White Powers, Impacto Hooligan, Kombat RAC, skinheads, grupos da extrema direita nacionalista e integralista como Ultra Defesa e Resistência Nacionalista. Esses grupos são responsáveis por inúmeros crimes violentos, entre eles o assassinato do adestrador de cães, Edson Neris, em 2000, na Praça da República, da bomba jogada na Parada Gay de 2009, e dos dois meninos jogados do trem em movimento na estação Brás-Cubas, em Mogi das Cruzes, no dia 7 de Dezembro de 2003 - Cleyton morreu e Flávio teve um dos braços amputados. Esses grupos também são responsáveis por grande parte das inúmeras agressões a negros e homossexuais nos últimos meses nas regiões centrais da cidade de São Paulo, como também em Osasco e outras localidades.

Há que se combater o crescimento destes grupos de forma urgente e eficaz, ampliando o debate e as discussões entre os movimentos sociais e toda a sociedade! Seguimos lutando contra toda e qualquer forma de preconceito e discriminação pelo mundo. Não nos calaremos! Estamos a disposição da sociedade, dos movimentos sociais e da imprensa para apresentarmos as denúncias contra esses grupos e contra qualquer forma de discriminação.

Por um mundo onde caibam vários mundos! Pelo direito e o respeito a diferença!

Movimento AnarcoPunk de São Paulo

http://anarcopunk.org/antifa/?p=1093

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os Anarquistas e as suas tarefas HOJE

(ESSE É UM RECORTE DO COMUNICADO 01 DA UNIÃO POPULAR ANARQUISTA DE 2004 QUE AINDA É VALIDO EM TOTALIDADE para quem atua de fato nos sindicatos,locais d estudo e moradia no campo e na cidade)
Tendo em mente tal análise da conjuntura, enquanto anarquistas, devemos ter uma posição clara frente à ela e (sabendo das atuais limitações impostas ao campo revolucionário) delimitar as principais tarefas. Podemos dizer que antes de determinar tais tarefas, é preciso estabelecer o critério fundamental que orienta os anarquistas e que deve orientar a ação de todo militante sinceramente devotado a causa do povo.
O primeiro critério que temos em mente é que a ação anarquista se orienta necessariamente pelas questões colocadas no campo da luta política. Qualquer crítica que tenhamos a determinadas idéias (sejam governistas ou oportunistas) nunca pode nos colocar do lado dos interesses da burguesia e contra os interesses do povo, ou seja, não pode nos levar a fazer nada que enfraqueça os meios que o povo encontra de se defender dos ataques da burguesia. No Brasil de hoje isso significa que temos de saber nos posicionar no campo político contra as reformas do Governo Lula (Sindical, Trabalhista e Universitária) e contra o reformismo, mas sem se deixar confundir com a política burguesa e contra-revolucionária, qualquer que seja sua retórica. Devemos apoiar incondicionalmente as greves, as ocupações rurais e urbanas e as lutas estudantis, indígenas e etc.
Devemos ter em mente que o critério de avaliação de uma força política, deve ser sempre sua presença junto ao povo (suas organizações e lutas), da onde vem seu poder e legitimidade. Este critério é aplicado a todos, inclusive aos anarquistas e demais revolucionários. Neste sentido, devemos estabelecer nossas tarefas mantendo a intransigência revolucionária, o que significa defender as conquistas e direitos materiais do povo hoje sem abrir mão de nosso programa socialista revolucionário. Mas isso sem incorrer em sectarismos: É como diz Fabbri: “Sempre que os socialistas se empenham numa luta, ainda que parcial, contra o capitalismo e contra o governo, por melhoras imediatas, por uma diminuição da exploração e da opressão, por um aumento do bem estar e da liberdade, estão seguros da solidariedade dos anarquistas no terreno da ação direta popular e proletária. Tanto mais nos solidarizemos ao seu lado e a vanguarda, quanto mais cheguemos ao terreno da luta em um conflito contra o capitalismo e o estado.” (Luigi Fabbri, Ditadura e Revolução). Fabbri, apesar de uma posição teórico-ideológica ecletista, soube perceber claramente como os anarquistas deveriam se comportar diante do reformismo republicano e socialista no início do Século XX. O mesmo raciocínio devemos aplicar hoje.
Podemos dizer que existem dois objetivos fundamentais a serem cumpridos pelos revolucionários na atual conjuntura: 1) destruir o governismo no movimento popular, ou pelo menos enfraquece-lo bastante; 2) desgastar a via reformista, ampliando então os espaços de influência do campo revolucionário, através da defesa da estratégia da ação direta. Neste sentido, devemos promover no campo do movimento popular, a maior unidade possível, no sentido de combater o governismo e desgastar o reformismo.
Aos muitos militantes independentes dizemos que é importante também ao fazer a crítica do reformismo e da burocracia, não cair no seu oposto, no espontaneísmo. A burocracia e o espontaneísmo são gêmeos siameses; um surge onde outro é dominante. Ambos tem funções desorganizadoras e favorecem o individualismo e o enfraquecimento da discussão, decisão e mobilização coletiva. O anarquismo é a alternativa a burocracia e ao espontaneísmo, ao reformismo e revolucionarismo autoritários e ao liberalismo burguês.
Podemos dizer que hoje a estratégia é, mesmo em pequenos grupos isolados, sabendo qual é nosso inimigo (e qual nosso objetivo principal no momento e nossas forças para alcança-lo), ataca-lo e desgasta-lo independentemente da existência de uma coordenação geral. A posição política UNIPA pode ajudar tais grupos e indivíduos isolados a identificar e combater o inimigo de hoje (o governismo) sem esquecer do inimigo principal (o capitalismo) e sem se deixar levar para o campo do reformismo (pelas ilusões do oportunismo de direita e esquerda) e do liberalismo (pelas ilusões do espontaneísmo e individualismo pequeno-burguês).

TEXTO INTEIRO SEM CORTES NO LINK:
http://www.uniaoanarquista.org/hpunipa/comunicados/c01_crisegovernismo.html

domingo, 20 de março de 2011

Facho é tudo igual, só muda a bandeira.

As Pérolas dos Carecas do Brasil
- Carecas do Brasil são anti-racistas e escutam músicas R.A.C, feitas por bandas nazis.
- Carecas do Brasil gostam do integralismo e são anti-nazis. Plinio Salgado era fã de Hitler e Mussolini.
- Carecas do Brasil idolatram o símbolo do Fascismo de Mussolini e são anti-nazis. Mussolini mantia relações politicas com Hitler.
- Nazis são homofóbicos, nacionalistas, xenofóbicos, são contra o comunismo, idolatram o estado. - Carecas do Brasil também, a diferença é que eles não se assumem como nazis...

Algumas bandas Carecas do Brasil dizem que fazem música Oi! (música que une Punks e Skins desde seu inicio). Mas careca do Brasil não gosta de punk, então careca faz música axé?
Carecas do Brasil não gostam de S.H.A.R.P. (Skinheads Contra O Preconceito Racial) e são anti-racistas? Engraçado, os nazis também odeiam S.H.A.R.P's...
- Carecas do Brasil lutam pelo Brasil. O salário minimo aumentou este ano por causa deles você sabia disso?
- Alguns Carecas ás vezes arriscam falar de exploração no trabalho, mas o que estes manés entendem de Working Class? Você já viu careca em protesto quando demitem em massa trabalhadores? Nem, protestar é coisa de comunista...

Careca Não É Skinhead!

Fonte:http://streetpunksh.blogspot.com/2011/03/as-perolas-dos-carecas-do-brasil.html

quarta-feira, 2 de março de 2011

[SP] Ataque de skinheads na Jornada Antifascista 2011 no espaço Ay Carmela!

Escórias! Sujam o nome dos verdadeiros Skinheads!

Dale Rash, dale SHARP, dale antifa!

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Neste sábado 26/02/2011 por volta das 18h os participantes do evento Jornadas Antifascista 2011 que ocorria no espaço Ay Carmela! no centro de São Paulo foram atacados por um grupo de cerca de 10 skinheads.

A atividade se desenvolvia normalmente quando um grupo armado com facas, machado, martelo, espingarda de chumbinho, faca de quebrar gelo, soco inglês e outras armas começou a subir a rua e se dirigir ao espaço Ay Carmela. Os participantes do evento entraram em confronto com os agressores na tentativa de evitar que chegassem ao espaço e o confronto se estendeu pela rua até as imediações do terminal de ônibus Parque Dom Pedro II.

Cinco agressores foram detidos e três participantes do evento foram feridos com facadas. Um dos participantes foi ferido no braço, o outro na barriga e o terceiro na testa, tendo perfuração do crânio. Todos estão sendo atendidos no pronto-socorro da Santa Casa de Misericórdia.

Mais uma vez temos uma mostra da brutalidade sem sentido com a qual estes movimentos de extrema direita tratam negros, homossexuais, nordestinos, antifascistas e outras "minorias" perseguidas.

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2011/02/487470.shtml

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Imagem distorcida do HardCore

Na década de noventa, o nome hardcore foi usado de uma forma infeliz por uma mídia que pouco assimilou as tendências mais radicais do rock. O pedantismo de muitos jornalistas, no mundo inteiro, acabou por corromper os conceitos trabalhosamente concebidos há muito tempo.

O hardcore é um estilo que surgiu no final dos anos 70, mais precisamente 1978, quando surge o grupo californiano Dead Kennedys. Sua intenção original é ser uma resposta mais enérgica ao punk rock, que para os punks mais radicais estava sucumbindo à acomodação e ao "sistema". "Sistema", na linguagem underground, é todo um conjunto de valores dominantes e conservadores aliados ao capitalismo e uma série de elementos que só interessam ao poder e privilégio de minorias ricas e privilegiadas.


Muitos intérpretes punk foram para a new wave. Os punks originais, vendo que os Sex Pistols mais pareciam ingênuos e inofensivos - eles se reduziram a meros palhaços do show business - , principalmente na fase do baixista Sid Vicious, partiram para uma cena radicalmente independente, com forte essência crítica, principalmente à opressão política ou mesmo à acomodação juvenil.

A importância do principal grupo hardcore, Dead Kennedys, está na figura de seu vocalista, Eric Boucher, também ativista político. Aparentemente debochado às vezes, Boucher, conhecido como Jello Biafra, tem posturas críticas sérias. Atualmente ele é também conferencista, e entre uma de suas idéias é defender o salário máximo, uma forma de limitar o enriquecimento abusivo de empresários e profissionais liberais. Jello, em suas críticas, não poupava a Igreja, o grupo racista Klu Klux Klan, os punks neo-nazistas e nem mesmo o governo norte-americano.

Em 1985 os Dead Kennedys foram processados pela justiça por serem muito agressivos. Muitos intelectuais, artistas (inclusive Frank Zappa) lutaram pela defesa da liberdade de expressão e a absolvição do grupo. O grupo ganhou a causa, mas Jello brigou com os outros três e a banda acabou em 1986. Jello seguiu sua causa humanitária e os outros três, que processam o ex-parceiro para obter participação nos lucros por direitos autorais, formaram outro grupo, D. K. Kennedys, com outro vocalista e na prática não fazendo outra coisa senão tocar as velhas músicas dos "Kennedys mortos" nos concertos. Parece coisa de Jovem Guarda, ficar vivendo sempre de glórias passadas.

Outros grupos de hardcore vieram junto com os Dead Kennedys. O mais famoso deles, curiosamente, é brasileiro. O paulista da região do ABC (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul) Ratos do Porão, liderado por João Gordo, um sujeito que com o tempo ficou extremamente obeso e recentemente (fevereiro de 2003) fez cirurgia para reduzir o estômago, fazia sobretudo críticas à política brasileira, naquela época vivendo o crepúsculo do regime militar.
O grupo, no início da década de 90, já era famoso e muito popular na Europa, e influenciou até mesmo o cenário punk da Finlândia, que chega a ter bandas cantando em português e fazendo punk rock à moda do Brasil.

A diluição do hardcore veio a partir de 1994. No Brasil, o atuante cenário rock sofria um violento processo de pasteurização, com rádios ditas "de rock" comandadas por quem não entendia coisa alguma do ramo, mas queria meter o dedo no assunto de qualquer maneira.

Com isso, oportunistas que apareciam na mídia travestidos de "gurus da cultura independente" promoveram um cenário de bandas que, sendo umas boas, outras medianas e as demais (a maioria) ruim, só superaram ao histórico rock brasileiro dos anos 80 pelo fato de serem profissionais desde o começo. Tinham empresário, equipamentos e instrumentos melhores (com exceção da bateria, que faz um som de lata insuportável), um produtor esperto, rádios poperó travestidas de rock e programas de tevê juvenis para aparecer.

O primeiro grande fenômeno foi os Raimundos. Anunciado como um grupo hardcore, esta banda de Brasília não segue realmente o gênero. Seu som é uma mistura de Ramones, Red Hot Chili Peppers e Sepultura. O lado mais pesado deles está mais próximo do heavy metal. Eles começaram misturando seu som com o forró, mas depois largaram a mistura. Tinham na figura do vocalista Rodolfo Abrantes seu integrante carismático. Com a saída dele, o grupo, com o guitarrista Digão nos vocais, perdeu o carisma que tinha, embora continuasse fiel ao seu estilo.

Com a saída de Rodolfo Abrantes dos Raimundos, para formar um grupo cujo nome é seu apelido, Rodox, outro grupo passou a absorver os fãs da banda brasiliense, o Charlie Brown Jr., de Santos, litoral paulista. Também rotulado de hardcore, o grupo santista no entanto se encaixa num skate rock convencional, com alguma influência de hip hop e de qualidade inferior ao feito nos EUA. É aquele grupo típico dos chamados playboys modernos: garotões que gostam de praia e falam gírias como "e aí, brou, tá ligado?", estereótipo personificado pela figura carismática de Chorão, vocalista do Charlie Brown Jr., cujo nome nada tem a ver com o do personagem de desenho animado que é dono do cachorro Snoopy. O nome do grupo santista foi inspirado num bar localizado na orla de Santos.

Muitos grupos foram rotulados de hardcore. Do popularesco Mamonas Assassinas, passando pelo ingênuo Baba Cósmica, e bandas díspares como Los Hermanos e Acabou La Tequila, que fazem uma sonoridade mais pop. O rótulo que definia o estilo dos Dead Kennedys foi tão abusivamente utilizado pela mídia, da mesma forma que muitos pastores e padres corruptos falam em Jesus Cristo. Mas este costume vem de fora, pois até o poppy punk do Blink 182 recebeu o rótulo de hardcore.

A rotulação se deu sob uma armadilha similar àquela que fez com que muitos cantores de dance music fossem rotulados de "roqueiros": a platéia e o visual. Menosprezando o aspecto musical, os jornalistas mais leigos insistiram em chamar Michael Jackson e Madonna de "roqueiros" só por causa de uma platéia mais agitada e um visual mais arrojado. Mas, musicalmente, nenhum dos dois mega-ídolos é rock. A mesma coisa com um grupo de poppy punk, que é rotulado de hardcore só porque a platéia pula que nem loucos e se veste de forma esquisita. Mas, musicalmente, representa mais uma quase new wave tocada de uma forma agressiva.

A coisa chegou ao insustentável quando o grupo CPM 22 passou a ser definido como hardcore. Liderado por Badauí, um rapaz gordinho que parece reconstituir os estereótipos das comédias estudantis norte-americanas, o grupo até funciona nos palcos e consegue fazer canções eficazes para seu público, em termos de estilo rock e letras sobre a realidade juvenil. No entanto, o grupo é inspirado no Blink 182 e do estilo dos Dead Kennedys não há uma sombra sequer. Afinal, são muito mais comportados, alegres e até ingênuos, se comparados com os verdadeiros músicos de hardcore.

POR QUE O HARDCORE FOI DILUÍDO?

Por que a imprensa classifica hoje qualquer punk ágil, mesmo pasteurizado, de hardcore? Por que não há discernimento? Será porque a indústria quer criar novos rótulos e rotular uma banda ingênua como sendo hardcore só serve para promover essa banda? Em todo caso, a ação de leigos, seja no rádio, na imprensa escrita e na televisão, prejudica a verdadeira compreensão do punk rock e suas diversas matizes.

Há uma tendência no rock brasileiro de 1997 para cá (2003) de tentar reconstituir o cenário punk / new wave de 1979. Houve bandas com visual "devóide" (Pino Solto), bandas que faziam fusão com ska (Skamoondongos, Los Djangos, Skuba), bandas "maluquetes" como Bidê Ou Balde, ou de inclinação kitsch como Vídeo Hits, já extinta. E um monte de bandas skatistas em busca ao sucesso.

No entanto, as bandas originais dos EUA e Inglaterra de 1979 não se diziam todas hardcore, tinham um senso crítico e inteligente por trás do suposto humor "engraçadinho", tinham criatividade musical e não se deixavam colocar a "irreverência" acima da música. No Brasil, porém, as bandas estão sempre com uma piada pronta para as entrevistas, nem que seja para fazer gozação com um roadie. Mas, musicalmente, dificilmente conseguem fazer algo marcante, apesar da crítica especializada fazer muita badalação em cima, e certos jovens acreditarem nisso.

Quanto ao verdadeiro hardcore, as bandas continuam existindo, e o prognóstico é o mesmo do punk em geral. Há um "punk hardcore" diluído e inofensivo, que prefere falar da "colega gostosa da sala-de-aula" do que das injustiças sociais, mas há um hardcore autêntico que ridiculariza até as diluições do gênero. E as bandas de hardcore continuam discriminadas, sem gravadora, sem mídia, mas com um esquema de divulgação precário, independente, underground. Dessas, somente o Ratos do Porão é considerada uma banda de grande repercussão. O que dá um ânimo para os injustiçados que não comem do caviar que se alimentam os "pânquis rardicór de butique".