sexta-feira, 22 de abril de 2011

As máscaras e o Black Bloc

By LA_BATTAGLIA 07/07/2001 At 01:43

Uma matéria sobre as origens do Black Bloc para desmistificar o caráter "porra-louca" que recebe de alguns camaradas, no mínimo, desinformados...

As máscaras e o Black Bloc : a história pré-Seattle


“Aqueles que possuem autoridade, temem a máscara pelo seu poder em identificar, rotular e catalogar comprometido: em saber quem você é... nossas máscaras não servem para esconder ou ocultar a nossa identidade, mas para revelá-la... hoje nós devemos dar um rosto a essa resistência; colocando nossas máscaras mostramos a nossa união; e levantando as nossas vozes nas ruas, nós botamos pra fora toda a raiva contra os poderoso sem rosto...”
Tirado de uma mensagem imprimida dentro das 9000 máscaras distribuídas no dia 18 de junho de 1999, carnaval anti-capitalista, que destruiu o distrito financeiro central de Londres.
Nos protestos contra a OMC em Seattle ano passado, havia entre 100 e 300 anarquistas e outros vestidos de preto que literalmente demoliram as vitrines das odiosas corporações multinacionais. Desde então a tática do Black Bloc vem despertando o interesse e chamando a atenção de diferentes pessoas preocupadas com transformação social. Todos os setores da classe média alta, progressistas e liberais tem pregado moralmente a grande distância sobre como não existe vez para tal comportamento no movimento deles. Ao mesmo tempo, o Black Bloc em Seattle inspirou e renovou o interesse nas táticas militantes, as quais não aceitam autoridade e nem baixam a cabeça perante o seu poder. O Black Bloc N30, junto com muitos outros aspectos dos eventos de Seattle, tem inspirado também anarquistas radicais a parar de se esconder dentro de grupos ativistas liberais com pautas reformistas, e começar a Ter mais voz ativa nas suas exigências pela revolução e total transformação social. Além da rápida proliferação de organizações e publicações anarquistas, está clara a evidência do ressurgimento do anarquismo nos EUA, que pode ser vista nos Black Blocs maiores, os quais estavam presentes no dia 16 de abril em Washington DC, na Assembléia Nacional dos Republicanos e Democratas, neste verão. Pra bem ou pra mal, parece que no último ano, o Black Bloc virou uma tradição americana, e tudo começou com aqueles bravos garotos e garotas em Seattle...
Será?! De fato, 30 de novembro esteve longe de ser a primeira vez que um grande grupo de radicais vestidos de preto com máscaras pretas estiveram prontos para se empenhar na militância com solidariedade e anonimato. O Black Bloc como uma associação pra estratégia em protesto pode ter mais de 20 anos. Sua origem, de fato, vem dos Autônomos Europeus, um movimento social radical que não necessariamente se proclamou anarquista, mas muitas das suas táticas e idéias tem se tornado bem apreciadas e adotadas pelos auto-proclamados anarquistas.


Sobre autonomia
Autonomia, autônomos, ou autonomistas têm sido os nomes usados por vários movimentos populares de transformação social e contra-cultura na Itália, Alemanha, Dinamarca, Holanda e outras partes da Europa nas últimas três décadas. Todos esses diferentes movimentos têm procurado se opor radicalmente à autoridade, dominação e violência, onde quer que ela exista na vida cotidiana ( quase todo lugar). Autonomia, neste caso, não significa um tipo de superioridade complexa regional, ou isolamento, como o nacionalismo, estatismo... e também não significa autonomia individual ás custas da maioria, como existe na base do capitalismo. O que os autônomos valorizam e desejam, é a liberdade para os indivíduos que escolheram outros com os quais possa dividir afinidades, e unir-se com eles para sobreviver e preencher todas as necessidades e desejos coletivamente, sem interferência da ganância, indivíduos violentos ou enormes burocracias desumanas.
Os primeiros assim chamados autônomos foram aqueles indivíduos envolvidos no movimento Autonomia Italiana, que começou no quente verão de 1969, uma época de intensa inquietação social.
Através da década de 70, um grande movimento pela transformação social total era formado na Itália pelos grupos autônomos de operários, mulheres e estudantes. Capitalistas, sindicatos e a burocracia estatistas do Partido Comunista não tinham nada a ver com esse movimento, e de fato, deu duro para reprimí-lo e pará-lo.
Ainda, a estrutura do poder estava, frequentemente, prejudicada em como lidar com a recusa completa, de vários setores da população, a obedecer as ordens das autoridades. Apesar da rápida proliferação da ação direta, greves moratórias, ocupações de massa, batalhas urbanas, ocupações de universidades e outras ações radicais popularmente apoiadas durante a década de 70, o movimento dos Italianos “acalmou-se”. Isto era em parte, devido aos ataques violentos, prisões e assassinatos de radicais pela polícia e pelo governo centralizador do Partido Comunista. Ao mesmo tempo, a reação à esta escala de violência estatal era, frequentemente, a escolha do terrorismo pelos grupos de guerrilha urbana radical.
O terrorismo de auto-defesa, muitas vezes serviu para afastar as pessoas do movimento público de transformação social. Alguns escolheram se tornar mais militantes e reservados enquanto outros abandonaram a política, para viver uma aparente pacífica vida de obediência à autoridade.

Construindo o poder de enfrentamento revolucionário - A cultura dos autônomos
Apesar do potencial revolucionário do Autonomia Italiana de 70 ter sucumbido, sua agitação, confiança e “atrevimento” serviram de inspiração para os jovens da Alemanha Ocidental de 1980. Inspirados também pelo movimento squatter de Amsterdam e as organizações jovens na Suíça, Alemanha e outras cidades maiores, começaram a formar a sua própria cultura autônoma com grupos sociais baseados na resistência radical e formas de vida alternativas.
A direção e a composição da organização radical na Alemanha Ocidental de 1980 era em parte determinado pelo domínio da recessão econômica e os caminho que ela seguiu. Por causa das conecções bem-estabelecidas entre os industriais e o governo alemão, os efeitos da recessão não foram tão sentidos pelos blue collar workers, mas pelos jovens que acharam impossível assegurar trabalho e moradia, e, que antes haviam se mudado da casa do pais e se tornaram economicamente e socialmente “independentes”.
Consequentemente, os motivos para a mobilização da juventude autônoma incluíram abalar o conformismo da sociedade rural alemã e da família nuclear, sérias deficiências domésticas, alto desemprego –bem como o status ilegal de aborto e planos governamentais para a expansão massiva do poder nuclear.
Como resultado da recessão econômica e visitas aos subúrbios, no fim de 1970, enormes regiões prediais residenciais, em diferentes cidades interioranas alemãs, especialmente na Alemanha Ocidental, foram abandonadas pelos empreendedores e as agências do governo. Ocupar esses prédios era uma opção viável para os jovens empobrecidos que procuravam independência da casa da família nuclear. Comunidades squatters cresceram na vizinhança de Kreusberg, em Berlim; os squats de Haffenstrasse, em Hamburgo; e em outros pontos de concentração. A pedra angular dessas comunidades era a vida em comum, e a criação de centros sociais radicais: infoshops, livrarias, cafeterias, lugares de encontro, bares, galerias de arte, e outros espaços multivalentes, onde as raízes políticas artísticas e culturais são desenvolvidas como uma alternativa para a vida da família nuclear, utopias de TV, e “cultura” pop de massa. Desses espaços sociais seguros, cresceram maiores iniciativas radicais para lutar contra o poder nuclear, ou centralizador; destruir a sociedade patriarcal e os papéis de gênero; mostrar solidariedade com os oprimidos do mundo atacando corporações multinacionais européias ou instituições financeiras como o Banco Mundial; e depois da reunificação alemã, lutar contra o crescente neo-nazismo.
Iniciativas semelhantes para uma vida alternativa como resistência estavam acontecendo nos anos 80 ( e em alguns lugares, bem antes) na Holanda, Dinamarca, e qualquer lugar da Europa Setentrional. Eventualmente, todas essas vivências norte-européias em grupos sociais descentralizados, os quais estavam dedicados a criar uma sociedade não-coercitiva e anti-hierárquica, tornaram-se rotulados como Autônomas.
Com o tempo, as idéias e táticas autonomistas também migraram através da reunida Cortina de Ferro européia. Eu, pessoalmente, tenho visitado centros sociais autônomos radicais na Inaglaterra, Espanha, Itália, Croácia, Eslovênia e República Tcheca.

Repressão linha dura, resistência militante e o Black Bloc
Desde o começo, a Alemanha Ocidental não encarou bem os jovens autônomos, quer quando eles estavam ocupando usinas nucleares ou prédios desabitados. No inverno de 1980, o governo da cidade de Berlim decidiu reprimir duramente os milhares de jovens squatters pela cidade: eles decidiram incriminá-los, atacá-los e despejá-los nas ruas geladas do inverno. Essa foi uma ação muito mais chocante e diferente na Alemanha, do que seria nos EUA, e teve como resultado o repúdio e condenação da polícia e do governo pela opinião pública.
De 1980 em diante, houve um ciclo crescente de prisões em massa, batalhas urbanas, e novas ocupações em Berlim e no resto da Alemanha. Os autônomos não estavam assustados, e cada despejo era respondido como novas ocupações. Quando os squatters de Freiburg foram presos, passeatas e manifestações os apoiaram, e, condenaram a política de despejo da polícia estatal, em quase todas as grandes cidades do país. Naquele dia, em Berlim, posteriormente chamado “sexta-feira negra”, 15000 a 20000 pessoas tomaram as ruas e destruíram uma área de consumo da classe média alta.
Esse era o caldeirão fervente de opressão e resistência, do qual o Black Bloc surgiu...
Em 1981, o governo alemão começou a legalizar certo squats, numa tentativa de dividir a contra-cultura e marginalizar os segmentos mais radicais. Mas, essas táticas eram lentas demais para pacificar o movimento popular radical –especialmente, desde 1980-81 não só se havia visto tamanha brutalidade como os squatters, mas além disso, a maior mobilização policial da Alemanha desde o III Reich, com o objetivo de atacar manifestantes não-violentos na “livre república de Wendland”, um acampamento de 5000 ativistas que bloquevam a construção da usina Gorlebein de lixo nuclear.
Mesmo anteriormente, ardentes pacifistas haviam sido radicalizados pela experiência da violenta repressão policial contra diversos squats e ocupações.
Em resposta à violenta repressão estatal, os ativistas desenvolveram a tática do Black Bloc: eles foram protestar e marchar, usando capacetes pretos de motoqueiros, máscaras de ski, e vestindo-se de preto (ou, para os mais preparados, estofamento de espuma e botas com ponta de aço, carregando seus próprios escudos). No Black Bloc, os autônomos e outros radicais poderiam se defender ou desviar, mais eficientemente, dos ataques policiais; sem serem reconhecidos como indivíduos, evitando prisões e batidas posteriores. E, como todos rapidamente perceberam, ter um grupo grande de pessoas, todas vestidas com a mesma cor de roupa, com os rostos cobertos, não só ajuda a escapar da polícia, mas também deixa mais fácil a tarefa dos sabotadores em destruir vitrines, bancos, e muitos outros símbolos materiais do poder do capitali$mo e do Estado. Nesse sentido, o Black Bloc é uma forma de militância que alivia a problemática entre desobediência civil não-violenta e, sabotagem e “terrorismo” guerrilheiro.

Realizações do Black Bloc e da resistência Autônoma
Black Blocs, militância autônoma e resistência popular ào Estado-polícia e à Nova Ordem Mundial se espalharam entre os europeus nos anos 80.
Apesar dos radicais holandeses não se intitularem autônomos desde o começo (até 1986), os ativistas contraculturais holandeses dividiram táticas, organizaram estruturas e militâncias com os auto-proclamados Autônomos. O movimento squatter da Holanda realmente começou em 1968, e por volta de 1981, mais de 1000 casas e apartamentos foram ocupadas em Amsterdam, e havia por volta de 15000 squats no resto do país. Restaurantes, bares, cafés e centros de informação ocupados eram lugar comum, e os organizados squatters (costumeiramente chamado kraakers) tinham seu próprio conselho para planejar a direção do movimento e sua própria estação de rádio.
Contudo, alguns autônomos holandeses se recusaram a usar máscaras de ski enquanto estavam no Black Bloc, isso não quer dizer que o movimento deixou de ser militante. Um livro sobre o movimento squatter holandês mostra que “ desde o início havia existido uma ‘brigada de capacetes pretos’, a qual parecia Ter entrado numa batalha”.
Batalhas nos despejos dos squats de Amsterdam, frequentemente, mostravam a construção de enormes barricadas e, encurralados squatters arremessando mobília e outros projéteis, de vários tamanhos e formatos, pelas janelas, visando abater a polícia. Nos anos iniciais, existiam certos limites para o uso da violência, a qual os squatters usariam para retaliar os ataques policiais. De qualquer maneira, em 1985, quando um squatter chamado Hans Kok morreu sob custódia policial, ao ser preso durante um brutal despejo e evacuação, os limites foram superados. Seguindo as notícias de sua morte, uma noite de ávida destruição reinou em Amsterdam, e mesmo carros da polícia foram queimados em frente de vários distritos. Um squatter disse: “todos tinham a idéia, agora nós usaremos dos últimos meios, apenas antes das armas mesmo: Molotovs...todos caminhavam com Molotovs em seus bolsos, todos tinham garrafas cheias com gasolina...era o novo método de ação direta”. Apesar da morte de Hans Kok e da resposta á altura terem tido um efeito negativo sobre o movimento, a nova estratégia se mostrou útil em alguns meios ativistas. Em 1985, o grupo holandês Ação Anti-racista (RARA), fez uma campanha bem-sucedida forçando a rede de supermercados holandeses MARKO a sair da África do Sul: a campanha foi realizada através de numerosos bombardeios, extremamente caros e danosos para eles, nas lojas e escritórios da MARKO.
Na Alemanha, em 1986, crescentes ataques policiais e tentativas de despejo, contra um complexo de casas ocupadas em Hamburgo, chamada Haffenstrasse, foram recebidas pela contra-ofensiva marcha de 10000 pessoas, entre elas, no mínimo, 1500 do Black Bloc, carregando uma faixa enorme que dizia: “Construa o poder de enfrentamento revolucionário!”. No fim da passeata, o Black Bloc foi capaz de, vitoriosamente, levar á cabo uma batalha de rua, na qual a polícia bateu em retirada. No dia seguinte, 13 lojas de departamentos foram queimadas, causando um prejuízo de $10 milhõe$ de dólare$.
Naquele mesmo ano, o desastre de Chernobyl trouxe uma nova onda de manifestações contra a construção de novas usinas nucleares na Alemanha. Um relato dessas manifestações anti-nuclear mostrou: “essas cenas lembram uma ‘guerra civil’; capacetes, Autônomos e anarquistas armados com estilingues, Molotovs e maçaricos colidiram brutalmente com a polícia, a qual usou canhões d’água, helicópteros e gás CS (oficialmente banido para uso em civis)”.
Em junho de 1987, quando Ronald Reagan foi à Berlim, cerca de 50000 pessoas se manifestaram contra a Guerra Fria, incluindo 3000 pessoas do Black Bloc. Um par de meses depois, os ataques policiai à Haffenstrasse se intensificaram novamente. Em novembro de 1987, moradores e milhares de outros autônomos fortificaram o complexo, construíram barricadas nas ruas e lutaram contra a polícia cerca de 24 horas. No fim, a cidade decidiu legalizar as residências ocupadas.
Mais de 10 anos antes de Seattle e o protesto contra a OMC, os Autônomos mobilizaram um evento semelhante com um grande grupo de resistentes. Em setembro de 1988, o Banco Mundial e o FMI se encontraram em Berlim. Os Autônomos se valeram deste encontro como foco para a resistência mundial contra o capitali$mo corporativo globalizante e, contra a destruição governamental de bases autônomas e comunitárias. Milhares de ativistas de toda a Europa e EUA foram mobilizados, e 80000 manifestantes foram “encontrar” os banqueiros (no mínimo, 30000 a mais que Seattle). A polícia, completamente superada em número, e a segurança privada do evento tentaram manter a “ordem” banindo todos os manifestantes e atacando brutalmente qualquer assembléia pública, mas as revoltas ainda estraçalharam os centros consumistas de classe média (já era tradição).

Black Blocs pré-Seattle
Em novembro de 1999, a tática do Black Bloc parecia nova para muitos americanos porque, em parte, as ações e as idéias do movimento Autônomo europeu eram obscurecidas ou ignoradas pela mídia americana e quase nem foram divulgadas. Contudo, a ignorância pelo Black Bloc também provém do fato que muitos americanos recebem notícias de acontecimentos regionais de uma mídia manipuladora, a qual ignora quaisquer acontecimento que não servem para os seus propósitos, apresentando qualquer evento que tom o lugar como um espétaculo singular, desconectado do passado e do futuro, a ser esquecido em pouco tempo, mesmo se aconteceu recentemenete.
Radicais nos EUA nunca foram totalmente ignorantes a respeito das idéias e ações dos Autônomos europeus, e o desenvolvimento da subcultura punk/hardcore, dos anos 80, nos EUA, se espelhou na cultura Autônoma. Desde o começo de 1990, anarquistas e outros radicais nos EUA, estavam usando máscaras nas passeatas e protestos, criando laços de solidariedade entre os manifestantes e o anonimato perante as autoridades.
Enquanto durava a Guerra do Golfo, um protesto nas ruas de Washington D.C. incluiu o Black Bloc, que quebrou as vidraças do prédio do Banco Mundial. Naquele mesmo ano, no Columbus Day, em São Francisco, um Black Bloc apareceu para mostrar à resistência militante, o contínuo genocídio da dominação norte-americana pelos europeus. Pessoalmente, o maior Black Bloc que eu já vi foi no M4M (millions for Mumia), na Filadélfia, em abril de 1999.
Eu diria que havia, no mínimo, 1500 vestidos de preto, mascarados e carregando faixas como: “Vegans por Mumia”. Apesar de não ter acontecido nenhuma batalha de rua e, particularmente, nenhuma destruição de propriedade privada, alguns garotos entraram em um estacionamento, ao longo da passeata, e subiram no teto, agitando a bandeira negra.

O futuro global da máscara preta
O símbolo do militante autônomo mascarado se espalhou pelo terceiro mundo. Ao mesmo tempo que o NAFTA, política econômica destrutiva neoliberal foi declarado no dia 1 de janeiro de 1994, a revolta guerrilheira explodiu em Chiapas, um estado do sul do México.
O levante procurava criar espaços, para o desenvolvimento de uma organização social autônoma entre a marginalizada população indígena. A ala armada dessa luta pela autonomia comunitária e a democracia direta sem coerção ou hierarquia, tem sido e continua sendo, os Zapatistas, homens e mulheres que sam máscaras negras sempre que aparecem em público. Muitos autônomos e anarquistas têm os visitado e tentado ajudá-los com conhecimento, dinheiro, materiais, e criando solidariedade e atenção internacional para a situação em Chiapas.
Voltando a Alemanha, os Autônomos passam por tempos difíceis. Dizem por aí que os squatters anteriores tomavam conta de, no mínimo, 165 grandes apartamentos na Alemanha Ocidental, mas até 1997, sobraram apenas 3 apartamentos. Legalizar alguns squats enquanto brutalmente despejavam outros, funcionou como política eficiente para o Estado-polícia. Muitas pessoas que vivem em squats legalizados estão impedidos de virar o jogo, encorajando e expressando solidariedade com estratégias praticadas por outros squatters, e essa marginalização deixa mais fácil a derrota squatter, nas batalhas urbanas, pelas crescentes forças policiais.
O ressurgimento do neo-nazismo, no que um dia foi Alemanha Ocidental, e em outras áreas do país significou maiores problemas para os Autônomos alemães. Eles enfrentam a violência e o assassinato de ataques neo-nazistas, onde essas gangues policiam as ruas como uma “tropa contra punks e imigrantes”.
A maior parte do tempo e esforço dos Autônomos, vai para a organização de ações e grupos anti-fascistas, mas isso também significa negligenciar as tarefas para o desenvolvimento de alternativas para uma sociedade anti-autoritária, um dos objetivos originais dos Autônomos. “Antifa” ou grupos anti-fascistas levam os Autônomos a confrontos ainda mais violentos com a polícia alemã, que basicamente apoia os grupos neo-nazistas e sua ideologia nacionalista, racista –isso quando oficiais da polícia não estão diretamente ligados a grupos fascistas.
Rumores dizem que muitos militantes na Europa Sententrional, onde o Black Bloc têm sido uma estratégia de manifestação comum, têm desistido ao mesmo tempo que paravam de atingir seu objetivo. O poder de repressão estatal tem desenvolvido e usado forças tecnológicas, legais e físicas ainda maiores para isolar, observar, perseguir e localizar os envolvidos com os Black Blocs. Um processo semelhante está acontecendo nos EUA, com o ressurgimento das táticas ao estilo COINTELPRO, tendo como alvo os radicais que se opõe ao império estatal americano de capitali$mo globalizante.
Mesmo que o Black Bloc continue como estratégia, ou seja abandonado, certamente, serviu ao seu propósito. Em certas épocas e lugares, o Black Bloc efetivamente, levou as pessoas a agir em solidariedade coletiva contra a violência do capitalismo e do Estado. É importante que nós não fiquemos presos à nostalgia como um ritual ou uma tradição ultrapassada, nem rejeitar tudo porque, ás vezes, parece inapropriado.
Em vez disso, devíamos continuar lutando pragmaticamente (e teoricamente), para preencher nossa necessidades e desejos individuais através de várias táticas e objetivos, quando elas forem apropriadas ao momento específico. “Disfarçar-se” como um Black Bloc tem sua hora e seu lugar, assim como as outras estratégias que se confrontam com ela...

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Anti-Religião

Alguém já ouviu falar em guerra ateísta ou homem bomba ateu? Mundo sem religião = mundo em paz.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Por que Apoio Cesare Battisti ?

Cesare é um ativista político que militou numa organização da luta armada italiana nos anos 1970, foi preso, acusado de participar de uma série de assassinatos, fugiu da prisão, se exilou primeiro no México, depois na França e lá, depois se estabelecer sob abrigo da doutrina Miterrand, foi preso e quase extraditado sob pressão do governo Berlusconi. Quando estava para ser mandado de volta à Itália, fugiu para o Brasil onde novamente foi preso (e permanece preso há quatro anos).
Há algumas questões que ajudam a entender melhor o caso:

* Qual o significado da luta armada na Itália dos anos 1970?

Ao contrário do que diz a imprensa empresarial (e mesmo parte da imprensa de esquerda), a luta armada italiana dos anos 1970 não foi um fenômeno marginal. Embora a Itália nestes anos fosse uma democracia liberal, contando inclusive com governos com participação da esquerda, ela viu florescer a oposição armada de centenas de grupos, muitos deles pequenos como os PAC (Proletários Armados pelo Comunismo) de Battisti. Essa oposição armada tinha raízes nos movimentos sociais italianos cuja força conseguiu prolongar por dez anos os eventos de 1968 e 1969, o que é chamado por lá de “o longo 1968″. Neste período, as ações armadas eram expressões de grupos enraizados nos movimentos sociais e, por isso, tinham certo respaldo popular e foram relativamente disseminados, mobilizando milhares de militantes. Sem entrar no mérito da legitimidade ou da adequação estratégica da luta armada naquele contexto, os fatos são: 1) a luta armada na Itália não foi marginal; 2) muitos dos grupos que usavam desta estratégia de luta estavam ligados aos amplos movimentos sociais italianos (ou pelo menos estiveram, nos primeiros anos); 3) essas ações envolveram muitos milhares de militantes. Exatamente porque foi o mais disseminado movimento de luta armada da Europa ocidental do pós-guerra, a repressão por lá foi proporcional à ameaça, fazendo com que esses anos também sejam conhecidos como os “anos de chumbo”. No combate aos grupos da luta armada, foram criadas leis de exceção e por todo lado foram denunciados abusos que envolvem prisões arbitrárias, julgamentos controlados, torturas em delegacias e assassinatos cometidos por grupos paramilitares ligados ao estado.

* Cesare é culpado pelos assassinatos de que é acusado?

Eu não sei a resposta e, a meu ver, ela não é relevante para a defesa da sua não extradição. Ele alega que não cometeu os crimes e que a principal evidência contra ele são depoimentos de ex-companheiros que provavelmente o acusaram para não serem condenados (por delação premiada). Quando um militante estava numa situação protegida, normalmente no exterior, era praxe que os demais companheiros presos jogassem no ausente todo o peso das acusações para reduzir a própria pena. A questão, para a extradição, não é principalmente se ele participou ou não dos assassinatos, mas se o julgamento dele foi justo e se ele está sendo perseguido politicamente.


* O julgamento de Cesare Battisti foi justo?

Não foi. A imprensa empresarial e o estado Italiano gostam de ressaltar que a Itália é uma democracia liberal que concede amplo direito de defesa aos seus acusados, mas essa afirmação não se aplica aos acusados de crimes ligados à luta armada nos anos de chumbo. Os detalhes do caso são complicados e podem ser encontrados nos sites que fazem a defesa do Cesare, mas, basicamente, ele foi julgado à revelia, sem direito a uma defesa formulada por ele mesmo e a principal prova da acusação é um testemunho de um ex-companheiro por meio de delação premiada. Além disso, o estado italiano é acusado de adulterar documentos e conseguir depoimentos por meio de tortura.

* Os crimes que Cesare supostamente cometeu são políticos? A perseguição que ele sofre é de natureza política?

Como o Cesare alega não ter participação nos assassinatos e não teve um julgamento justo, a questão principal não é se os crimes foram políticos, mas se a perseguição que ele sofre por esses crimes é de natureza política – e isso me parece inquestionável. O discurso da acusação diz que ele é um criminoso comum, um assassino em série. Mas que criminoso comum mobiliza toda a classe política italiana para ser condenado? Por qual motivo, senão político, a Itália ameaça o Brasil com sanções pela não extradição? Quando Cesare vivia na França há anos, asilado com base na doutrina Miterrand (segundo a qual a França dava asilo a guerrilheiros que renunciassem a luta armada), a imprensa italiana noticiou que Berlusconi havia oferecido a exploração de uma linha de alta velocidade na Itália para a empresa francesa TGV em troca da extradição dos ex-militantes italianos abrigados naquele país. Semanas depois, o estado francês rompeu com a doutrina Miterrand e prendeu Cesare Battisti, o primeiro de muitos ativistas italianos asilados na França. É razoável supor que todo esse esforço foi feito para que a justiça fosse feita para um “crime comum”??? Cada vez que o estado italiano reage com fúria e agressividade a um movimento do governo brasileiro no sentido de abrigar o Battisti, mais se evidencia que a perseguição a ele é de natureza política e que, portanto, ele pode não ser extraditado por fundado receio de perseguição política (como diz textualmente o tratado de extradição entre Brasil e Itália).


* Por que a esquerda italiana quer a sua extradição?

Muitas vezes a imprensa ressalta que até a esquerda italiana pede a extradição de Battisti, o que provaria que ele é um criminoso comum (pois sequer a esquerda local reconheceria suas ações como políticas). O que esquecem de dizer é que a luta armada na Itália foi feita contra a esquerda institucional italiana – e, portanto, a esquerda parlamentar, tanto quanto a direita, buscam a vingança contra os militantes armados. A luta armada de esquerda na Itália era uma das vertentes de um movimento mais amplo chamado de “esquerda extra-parlamentar” que abrigava expressões não institucionais da esquerda e dos movimentos sociais. Os partidos políticos de esquerda eram inimigos destas tendências e quando estiveram no poder, participaram ativamente da repressão. É isso que explica por que parte da esquerda italiana quer a cabeça de Battisti. Mas isso não significa que Cesare não tenha apoio na sociedade civil italiana não ligada aos partidos. Curiosamente, nenhum desses apoiadores italianos de Battisti (entre eles importantes intelectuais e organizações de direitos humanos) é entrevistado nas peças de propaganda veiculadas pela imprensa empresarial brasileira.

É por esses motivos que acredito que o Cesare não deve ser extraditado e que aplaudo a coragem com que o governo brasileiro ofereceu abrigo para esse ativista que há mais de vinte anos busca viver a vida em paz, no contexto e nos desafios de um novo tempo.

Fonte:Cesarelivre.org

domingo, 10 de abril de 2011

Nota Oficial em repúdio à manifestação em apoio ao Deputado Federal Jair Bolsonaro

O Movimento Anarco Punk vem, por meio desta nota, expressar total repúdio ao ato realizado por grupos de extrema-direita esta manhã (09) no Vão Livre do MASP. Este manifesto busca ressaltar a relevância social de que analisemos essa tentativa de levante dos grupos direitistas e intolerantes que vêem, há anos, se organizando na cidade de São Paulo, no Brasil e em todo o mundo, buscando assim uma forma concreta de combate. Somos todos/as vítimas da intolerância.

O ato a favor do Deputado Federal Jair Bolsonaro foi organizado por sádicos direitistas que assumiram publicamente serem homofóbicos. São indivíduos que se organizam através de grupos paramilitares (denominados por eles como “extra-quartel”) que tem como prática ações de violência contra minorias étnicas, como negros/as, nordestinos/as e descendentes de imigrantes, além de toda comunidade LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, e Transgêneros).

Junto aos movimentos sociais, comparecemos ao Contra-Ato, organizado para demonstrar publicamente a não aceitação da sociedade de grupos com características militaristas, fascistas e violentas. Em quantidade numérica superior aos Fascistas pró-Bolsonaro, demonstramos que em uma cidade marcada pela presença do/a negro/a, pelo trabalho dos/as imigrantes (nordestinos/as, asiáticos/as, africanos/as e etc) e pela diversidade, ideais racistas, homofóbicos e intolerantes nunca serão aceitos.

Acrescentamos também, que as duas pessoas ‘detidas’ pela polícia, que faziam parte do contra-ato, foram encaminhados à delegacia pois estavam sem documento, não existindo acusações concretas contra as mesmas. Ao contrário dos pró-Bolsonaro que respondem a diversos processos por agressão, racismo, formação de quadrilha, entre outros.

Viemos a público denunciar que as organizações que convocaram o ato demonstraram que a intolerância é a bandeira que os une. Nunca uma manifestação pública organizada por esses grupos, conseguiu aglutinar as várias facções intolerantes de São Paulo, como Carecas do ABC, Carecas do Subúrbio, White Powers, Impacto Hooligan, Kombat RAC, skinheads, grupos da extrema direita nacionalista e integralista como Ultra Defesa e Resistência Nacionalista. Esses grupos são responsáveis por inúmeros crimes violentos, entre eles o assassinato do adestrador de cães, Edson Neris, em 2000, na Praça da República, da bomba jogada na Parada Gay de 2009, e dos dois meninos jogados do trem em movimento na estação Brás-Cubas, em Mogi das Cruzes, no dia 7 de Dezembro de 2003 - Cleyton morreu e Flávio teve um dos braços amputados. Esses grupos também são responsáveis por grande parte das inúmeras agressões a negros e homossexuais nos últimos meses nas regiões centrais da cidade de São Paulo, como também em Osasco e outras localidades.

Há que se combater o crescimento destes grupos de forma urgente e eficaz, ampliando o debate e as discussões entre os movimentos sociais e toda a sociedade! Seguimos lutando contra toda e qualquer forma de preconceito e discriminação pelo mundo. Não nos calaremos! Estamos a disposição da sociedade, dos movimentos sociais e da imprensa para apresentarmos as denúncias contra esses grupos e contra qualquer forma de discriminação.

Por um mundo onde caibam vários mundos! Pelo direito e o respeito a diferença!

Movimento AnarcoPunk de São Paulo

http://anarcopunk.org/antifa/?p=1093

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Os Anarquistas e as suas tarefas HOJE

(ESSE É UM RECORTE DO COMUNICADO 01 DA UNIÃO POPULAR ANARQUISTA DE 2004 QUE AINDA É VALIDO EM TOTALIDADE para quem atua de fato nos sindicatos,locais d estudo e moradia no campo e na cidade)
Tendo em mente tal análise da conjuntura, enquanto anarquistas, devemos ter uma posição clara frente à ela e (sabendo das atuais limitações impostas ao campo revolucionário) delimitar as principais tarefas. Podemos dizer que antes de determinar tais tarefas, é preciso estabelecer o critério fundamental que orienta os anarquistas e que deve orientar a ação de todo militante sinceramente devotado a causa do povo.
O primeiro critério que temos em mente é que a ação anarquista se orienta necessariamente pelas questões colocadas no campo da luta política. Qualquer crítica que tenhamos a determinadas idéias (sejam governistas ou oportunistas) nunca pode nos colocar do lado dos interesses da burguesia e contra os interesses do povo, ou seja, não pode nos levar a fazer nada que enfraqueça os meios que o povo encontra de se defender dos ataques da burguesia. No Brasil de hoje isso significa que temos de saber nos posicionar no campo político contra as reformas do Governo Lula (Sindical, Trabalhista e Universitária) e contra o reformismo, mas sem se deixar confundir com a política burguesa e contra-revolucionária, qualquer que seja sua retórica. Devemos apoiar incondicionalmente as greves, as ocupações rurais e urbanas e as lutas estudantis, indígenas e etc.
Devemos ter em mente que o critério de avaliação de uma força política, deve ser sempre sua presença junto ao povo (suas organizações e lutas), da onde vem seu poder e legitimidade. Este critério é aplicado a todos, inclusive aos anarquistas e demais revolucionários. Neste sentido, devemos estabelecer nossas tarefas mantendo a intransigência revolucionária, o que significa defender as conquistas e direitos materiais do povo hoje sem abrir mão de nosso programa socialista revolucionário. Mas isso sem incorrer em sectarismos: É como diz Fabbri: “Sempre que os socialistas se empenham numa luta, ainda que parcial, contra o capitalismo e contra o governo, por melhoras imediatas, por uma diminuição da exploração e da opressão, por um aumento do bem estar e da liberdade, estão seguros da solidariedade dos anarquistas no terreno da ação direta popular e proletária. Tanto mais nos solidarizemos ao seu lado e a vanguarda, quanto mais cheguemos ao terreno da luta em um conflito contra o capitalismo e o estado.” (Luigi Fabbri, Ditadura e Revolução). Fabbri, apesar de uma posição teórico-ideológica ecletista, soube perceber claramente como os anarquistas deveriam se comportar diante do reformismo republicano e socialista no início do Século XX. O mesmo raciocínio devemos aplicar hoje.
Podemos dizer que existem dois objetivos fundamentais a serem cumpridos pelos revolucionários na atual conjuntura: 1) destruir o governismo no movimento popular, ou pelo menos enfraquece-lo bastante; 2) desgastar a via reformista, ampliando então os espaços de influência do campo revolucionário, através da defesa da estratégia da ação direta. Neste sentido, devemos promover no campo do movimento popular, a maior unidade possível, no sentido de combater o governismo e desgastar o reformismo.
Aos muitos militantes independentes dizemos que é importante também ao fazer a crítica do reformismo e da burocracia, não cair no seu oposto, no espontaneísmo. A burocracia e o espontaneísmo são gêmeos siameses; um surge onde outro é dominante. Ambos tem funções desorganizadoras e favorecem o individualismo e o enfraquecimento da discussão, decisão e mobilização coletiva. O anarquismo é a alternativa a burocracia e ao espontaneísmo, ao reformismo e revolucionarismo autoritários e ao liberalismo burguês.
Podemos dizer que hoje a estratégia é, mesmo em pequenos grupos isolados, sabendo qual é nosso inimigo (e qual nosso objetivo principal no momento e nossas forças para alcança-lo), ataca-lo e desgasta-lo independentemente da existência de uma coordenação geral. A posição política UNIPA pode ajudar tais grupos e indivíduos isolados a identificar e combater o inimigo de hoje (o governismo) sem esquecer do inimigo principal (o capitalismo) e sem se deixar levar para o campo do reformismo (pelas ilusões do oportunismo de direita e esquerda) e do liberalismo (pelas ilusões do espontaneísmo e individualismo pequeno-burguês).

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